“Como vou arranjar um emprego, se nem tenho um lugar para tomar banho?”. A pergunta do senhor Marcelo Honório é a mesma de tantas outras pessoas que vivem em situação de rua. Nascido em Alagoas, foi depois de enfrentar conflitos familiares que passou a viver nas ruas. “A rua não é para ninguém. Nós não somos invisíveis. Somos seres humanos. Só queremos uma oportunidade de emprego, moradia digna e viver do nosso trabalho”, disse ele.

Nesta sexta-feira (10), pessoas em situação de rua e migrantes participaram de um mapeamento profissional, realizado pelo Projeto Caminhos para a Dignidade, uma iniciativa conjunta entre o Ministério Público do Trabalho em Sergipe (MPT-SE), a Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo (Seteem), Instituto Social Ágatha, Cáritas Arquidiocesana, Pastoral do Povo da Rua, Projeto Banho para Todos e Instituto Bom Pastor. “O que nós queremos é, além dos serviços de assistência que já vêm sendo prestados, poder oferecer uma estrutura mínima necessária para que essa população tenha a própria capacidade de subsistência”, explicou o procurador do Trabalho Adroaldo Bispo.

O mapeamento foi realizado no salão da Paróquia São Pedro Pescador, no Bairro Industrial, zona norte de Aracaju. A vice-presidente do Instituto Social Ágatha, Valéria Chapman, afirma que a escuta foi além da oportunidade de emprego em si, já que algumas pessoas demandam acompanhamento psicossocial. “Conversamos com pessoas que têm necessidade de benefícios sociais, outras que já têm o aluguel social liberado, mas não sabem como acessar. Durante esse contato, nossa equipe orientou os assistidos e procurou os equipamentos públicos que podem ajudar”, explicou.

A ação contou com o apoio do Centro POP. Ao todo, cerca de 20 pessoas em situação de rua e migrantes foram ouvidas e, a partir do levantamento, quem já estiver habilitado para o mercado de trabalho, será encaminhado a vagas de emprego obtidas por meio de Termo de Ajuste de Conduta (TAC), firmado com o MPT-SE ou para entrevistas de emprego, intermediadas pela Seteem.

Também foram disponibilizadas vagas imediatas para o Programa Primeiro Emprego, que oferece bolsas, por até seis meses, durante o processo de capacitação. “A ação de hoje é uma continuidade desse projeto, que já rende bons frutos. Os dados obtidos aqui vão nos ajudar a encaminhar as pessoas para oportunidades de emprego, qualificação ou empreendedorismo, porque o objetivo é dar autonomia e dignidade a essa população”, afirmou Elayne Araújo, diretora da Economia Solidária da Seteem.

Imigrante da Venezuela, Leila Arellano é uma das assistidas pelo Projeto Caminhos e participou do mapeamento profissional. “Estou com muita esperança de continuar aprendendo e ter uma oportunidade, uma chance de recomeçar e ter uma vida digna”, destacou a imigrante.

O Projeto Caminhos para a Dignidade surgiu em 2024, depois de o MPT-SE, em parceria com diversas instituições, ouvir pessoas em situação de rua e migrantes na sede da instituição.

O projeto oferece cursos de capacitação na produção de alimentos e já permitiu à população vulnerável participar de feiras, a exemplo da Vila da Páscoa e da Vila do Forró, eventos promovidos pelo Governo do Estado. Agora, as equipes já se prepararam para a venda de alimentos na Vila do Natal, na Orla da Atalaia.