A compreensão de saúde vai além do simples diagnóstico clínico. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o termo como um estado de completo bem-estar físico, mental e social — e é com base nessa perspectiva que dois projetos de extensão da Universidade Federal de Sergipe (UFS) têm atuado: o “Treinamento Funcional para Mulheres de Peito” e o “Mais Viver”.

Voltados para públicos distintos, os projetos compartilham o objetivo de promover qualidade de vida por meio do exercício físico regular, do acolhimento e da convivência em grupo. As iniciativas, coordenadas por docentes e discentes do Departamento de Educação Física (DEF/UFS), reforçam o papel da universidade pública na promoção da saúde e na transformação social.

Atividade física e acolhimento no enfrentamento ao câncer

 

Encontros do “Treinamento Funcional para Mulheres de Peito” acontecem na sede da Associação Mulheres de Peito, em Aracaju (Foto: arquivo pessoal)
Encontros do “Treinamento Funcional para Mulheres de Peito” acontecem na sede da Associação Mulheres de Peito, em Aracaju (Foto: arquivo pessoal)

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se que 73.610 novos casos de câncer de mama sejam registrados até este ano. Diante desse cenário, o projeto de extensão da UFS “Treinamento Funcional para Mulheres de Peito” surge como uma iniciativa que alia ciência, cuidado e acolhimento no enfrentamento à doença. Realizado em parceria com a Associação Mulheres de Peito, o projeto investiga os efeitos do treinamento funcional durante e após o tratamento oncológico, com foco na melhoria da qualidade de vida das participantes.

Idealizado e coordenado pela fisioterapeuta Ana Luíza Setton, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento (PPGCM/UFS), o projeto surgiu da dissertação de mestrado da pesquisadora, que coletou dados ao longo de três meses de intervenção com cerca de 200 mulheres. Os ganhos observados foram expressivos: melhora na qualidade do sono, aumento da força muscular, do condicionamento cardiorrespiratório e até da cardioproteção.

 

Ana Luíza Setton, mestre pelo PPGCM/UFS, é a idealizadora e coordenadora do projeto (Foto: Elisa Lemos/Ascom UFS)
Ana Luíza Setton, mestre pelo PPGCM/UFS, é a idealizadora e coordenadora do projeto (Foto: Elisa Lemos/Ascom UFS)
Alguns treinamentos também aconteceram na praia (Foto: arquivo pessoal)

“O treinamento não é mais um tabu para essa população. É seguro, viável e melhora significativamente o bem-estar dessas mulheres”, afirma Ana, que também destaca a importância do aspecto emocional. “Muitas chegam reclusas, mas quando criamos um ambiente de confiança, elas se abrem. O exercício em grupo fortalece não só o corpo, mas também o vínculo entre elas”, complementa.

A iniciativa também transforma a vida de quem participa. Para Aline Souza, presidente da Associação Mulheres de Peito, os efeitos foram imediatos. “Eu tinha receio por conta das dores, mas vi o quanto me ajudou. Ganhei força para as atividades do dia a dia e melhorei a qualidade do sono. Encontrei qualidade de vida”, revela.

Além de contribuir diretamente para a saúde e o bem-estar das pacientes, o projeto também cumpre um papel essencial na formação acadêmica dos estudantes da UFS. Segundo o professor e coordenador do projeto Rogério Wichi (DEF/UFS), a proposta se consolidou como uma experiência que une ensino, pesquisa e extensão, permitindo que alunos da graduação e da pós-graduação participem ativamente do acompanhamento dos treinamentos e da análise dos dados. “O que a gente coloca em sala de aula, depois a gente vê na prática. Dessa forma, não apenas as mulheres atendidas são beneficiadas, mas também os estudantes, que ampliam sua qualificação técnica e científica ao longo do processo”, afirmou o professor.

Funcionalidade, autonomia e vínculos sociais na terceira idade

 

(Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS)
(Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS)

Com mais de uma década de atuação, o projeto “Mais Viver” promove a prática regular de exercícios físicos e estimula a socialização de idosas da comunidade ao redor da UFS. Coordenado pelo professor Marzo Grigoletto (DEF/UFS) e pelos estudantes da pós-graduação André Filipe e Leury Max, o projeto é parte do grupo de pesquisa Functional Training Group (FTG) e vem demonstrando que o cuidado com a saúde vai além da dimensão física.

Ao combinar treinos funcionais com avaliações detalhadas sobre qualidade de vida, o “Mais Viver” tem contribuído não só para a autonomia corporal das participantes, mas também para melhorias perceptíveis em aspectos emocionais, cognitivos e sociais, fortalecendo vínculos, autoestima e bem-estar em um espaço coletivo e afetivo.

 

(Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS)
(Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS)

Coordenador do projeto e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas (PROCFIS/UFS), Leury Max destaca que o “Mais Viver” tem como foco a melhoria da capacidade funcional das idosas, o que reflete diretamente na autonomia para atividades cotidianas e, indiretamente, na saúde emocional e na inserção social.

“Quando uma idosa volta a pentear o cabelo sozinha ou consegue subir e descer uma escada com segurança, ela não está apenas ganhando força física. Ela está recuperando sua independência, voltando a sair com as amigas, ir à igreja, fazer passeios”, pontua o pesquisador.

Os treinos, realizados três vezes por semana, são sempre acompanhados por instrutores capacitados e precedidos de avaliações físicas e psicológicas, que se repetem ao longo da intervenção para medir a evolução de cada participante. Na edição atual, por exemplo, o projeto está testando a calistenia — modalidade que utiliza o próprio peso corporal — como alternativa de baixo custo e alta eficácia.

“Se conseguirmos comprovar que a calistenia é eficiente, isso pode representar uma alternativa viável para políticas públicas em parques, praças e comunidades com poucos recursos. Hoje, conseguimos atender cerca de 150 idosas sem depender de equipamentos caros”, explica.

Mais do que estatísticas e avaliações, o impacto do projeto pode ser medido pelas histórias de vida que se transformam. Glaucia Maria Lima, costureira aposentada, é uma das participantes que encontrou no “Mais Viver” um novo ritmo para a própria rotina. Após anos de trabalho com escalas puxadas em hospitais, ela se afastou das atividades físicas. Foi incentivada por uma amiga a conhecer o projeto e, desde então, não quer mais sair. “Antes eu não fazia exercício. Hoje, eu quero vir sempre. Principalmente porque aqui a gente vê as colegas, faz amizades. Antes eu não tinha essa oportunidade”, compartilha Glaucia.

 

Glaucia Maria Lima, costureira aposentada, é uma das participantes do "Viver Mais" (Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS)
Glaucia Maria Lima, costureira aposentada, é uma das participantes do “Viver Mais” (Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS)

Para continuar acompanhando as ações dos projetos de extensão “Treinamento Funcional para Mulheres de Peito” e “Mais Viver”, acesse seus respectivos perfis no Instagram: @funcionalmulheresdepeito e @maisviver.ufs.

Fonte, Brunna Martins – Ascom UFS

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