Compromisso é com a construção coletiva, a transparência e o diálogo contínuo
Após 20 anos de advocacia, Ana Lúcia Aguiar recebeu um chamado irrecusável. Mulher de fé inabalável, como se define, resolveu colocar seu nome à disposição e formar uma chapa para a presidência da Ordem dos Advogados do Brasil seccional Sergipe (OAB/SE) e, com uma composição plural, recuperar a credibilidade da instituição, acolhendo os advogados que não foram tangenciados pelas ações da ordem nos últimos anos.
Esse chamado, conta Ana, se manifestou de diversas formas. Entre elas, no diálogo contínuo com toda a advocacia e, sobretudo, com os advogados que prezam pelo respeito à ordem e a manutenção de sua essência, a função social. Outras vezes, quando identificou a omissão de uma instituição, antes vanguarda, antes antecipada aos fatos, perante temáticas importantes e adversidades.
“Em nenhum momento eu perdi o elo com a advocacia. A advocacia que hoje se une ao nosso coletivo, que se une à nossa chapa, é formada pela pluralidade de colegas que se integraram e que vieram me chamando, aquelas pessoas que eu encontrava no chão do fórum, nas audiências, nos momentos de dificuldade e de não serem recebidas pela instituição”, afirma Ana Lúcia.
A convocação à luta pela instituição também foi interna. Apesar de ter um nome consolidado na advocacia, Ana Lúcia começou sua carreira acadêmica no campo da comunicação. “Por amor”, afirma, transitou para o direito e nele permaneceu. “Para poder advogar na causa de defesa das mulheres, das meninas e dos meninos, voluntariamente. Sempre fui essa mulher advogada de pé no chão, uma mulher que nunca está triste, sempre com sorriso, sempre com o braço estendido, sempre com a palavra de acolher e sempre pronta para defender”, diz ela.
Foi esse amor pelo direito que a fez acreditar que, apesar de indispensável à administração da Justiça, a credibilidade do exercício advocatício está sendo minada, atravessada pelas problemáticas que não recebem um olhar da atual gestão. “Se nós somos indispensáveis, por que essa depreciação da carreira da advocacia? Por que muitos colegas estão deixando de ser advogados e buscando outra profissão, buscando um outro trabalho? Por tudo isso, por todas essas dificuldades e portas fechadas que eles encontram, seja no judiciário, seja nas delegacias”, completa.
Dessa forma, com o desejo de fazer ecoar a voz da advocacia, Ana Lúcia despertou para, com o vice, jovem advogado e professor, Alberto Hora e a advogada Susan Manuela, construir a chapa ‘Respeito pela Ordem’, que define como histórica e representativa, despida de intenções de promoções pessoais.
“O que mais me orgulha e me encanta é estar liderando essa chapa. É uma chapa histórica, é uma chapa onde eu me uno com a jovem advocacia, uma chapa plural, uma chapa que traz dentro de seu conceito a possibilidade da gente ecoar a nossa voz, abrir as portas da nossa casa, dialogar com a advocacia, discutir os problemas da gestão e de como o advogado e a advogada querem que a sua instituição atue. Todos que estão aqui na nossa chapa têm uma representatividade, têm uma história, e essa história nós vamos contar, de cada um deles”, diz ela.
Fazendo uma avaliação da atual gestão e dos motivos pelos quais tem as credenciais para estar à frente da OAB Sergipe, Ana destacou a omissão e a distância criada entre a ordem e os advogados que vivem o cotidiano, a face real da profissão.
“Em grandes acontecimentos, que precisavam de uma voz da ordem mais retumbante, mais forte, mais ativa, [a ordem] não estava. A ordem sempre se antecipou aos fatos, principalmente a OAB Sergipe, sempre daqui foi que saíram as grandes ideias, os grandes projetos para servir de referência e serem implementados nacionalmente. Mas essa foi uma gestão feita para poucos. Se você perguntar hoje se a ordem conhece o sofrimento da advocacia como um todo, eu afirmo taxativamente que não conhece”, lamenta Ana Lúcia.
Assim, Ana Lúcia define como os pilares de uma possível gestão a representatividade, a construção coletiva, a transparência, o diálogo contínuo e a abertura de oportunidades no mercado de trabalho e de qualificações para o advogado.
Em sua avaliação, são os profissionais que passam por dificuldades e não encontram na ordem uma rede de apoio que fazem com que a inadimplência alcance níveis superiores a cada ano. Por sua vez, avalia Ana Lúcia, a ordem só tem olhos para aqueles que estão com as contas em dia, desestimulando ainda mais a reintegração daqueles que estão inadimplentes.
“Tem a inadimplência voluntária, porque ele deixou de acreditar na ordem e não vai pegar o dinheiro dele para pagar. Tem aquele advogado que realmente não tem trabalho e não vai deixar de sobreviver para pagar, tem aquele que está estudando para o concurso e quem foi buscar outros meios de sobrevivência, justamente por essa decepção, essa falta de acolhimento, essa falta de mercado”, argumenta.
Por conta disso, um dos compromissos que Ana Lúcia ressalta é a abertura do mercado de trabalho para a advocacia, visando atenuar as dificuldades vividas pelos profissionais e recuperar o respeito e a confiança na instituição. Conhecedora da advocacia “de chão”, ela também promete não ficar atrás de mesas e balcões e extinguir a reeleição que estimula a perpetuação de grupos antigos no poder.
“Ana está colocando o seu nome à disposição da advocacia sergipana, inclusive enfrentando vários sistemas, inclusive o etarismo. Desde quando comecei até hoje, sou a mesma pessoa, não mudo. Ana não é candidata ao quinto e Ana não tem compromisso com a reeleição. Essa gestão vai implementar a não reeleição na ordem, para justamente acabar com esse poderio, esse grupo que quer se perpetuar”, finaliza.
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