O Governo do Estado, por meio da Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), está desenvolvendo uma pesquisa pioneira para controle biológico do moleque-da-bananeira, inseto de hábito noturno que ataca o rizoma da planta, causando graves danos à cultura e elevando os custos de produção. O controle é estudado há um ano, após demanda de um pequeno produtor do município de Malhador, no agreste sergipano.

Os resultados das descobertas sobre o moleque-da-bananeira podem beneficiar os mais de 2.200 produtores registrados em Sergipe, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo é realizado pelo pesquisador da Emdagro e doutor em Entomologia Agrícola, Marcelo Mendonça, e pelo mestrando em Biotecnologia Industrial, Lucas Barboza.

O produtor José Firmino de Oliveira, mais conhecido como Zé de Rufino, de 74 anos, procurou o pesquisador Marcelo Mendonça durante um curso ministrado em Itabaiana sobre métodos de controle biológico de pragas. Na pequena propriedade de quatro hectares, Rufino produz banana, entre outras culturas, todas em sistema orgânico. Há alguns anos, ele notou que as bananeiras tombavam, mas não havia nenhuma marca aparente que denunciasse o problema. “O moleque-da-bananeira ataca por dentro. É um animal de hábito noturno, que se abriga da luz do dia. As larvas abrem galerias nos rizomas, alimentando-se dos tecidos da planta. Por isso seu Rufino não via nada por fora”, detalhou o Dr. Marcelo Mendonça.

Seu Zé Rufino conta que a praga existe desde quando existe bananeira, não só em Sergipe, mas no Brasil, só que nunca havia procurado uma maneira de combatê-la ou um defensivo para diminuir sua incidência. “Conheci o doutor Marcelo há dois anos e ele está nos apoiando, trabalhando com uma forma de controle para essa praga. Perdi cerca de 30% da produção, mas, desde que começamos, já notei que o número de bananeiras caídas diminuiu”, disse o produtor. A expectativa dele agora é que, daqui a um ano, não haja mais a presença da praga na propriedade em que produz e vive com a família.

O controle de pragas da bananeira tem sido um desafio para os pesquisadores, porque os métodos convencionais, a partir de agroquímicos, demonstram baixa efetividade, além de causar danos com a poluição do ambiente e de animais benéficos. Para suprir essa necessidade, técnicas de controle biológico com fungos entomopatogênicos (que parasitam insetos) e outros grupos de microrganismos podem ser utilizadas. “O problema no pomar de seu Rufino foi um intenso ataque de Cosmopolites sordidus, mais conhecido como moleque-da-bananeira”, identificou o pesquisador.

Segundo ele, a pesquisa é desenvolvida em parceria com o próprio produtor, uma vez que são feitas visitas constantes à propriedade para coleta de insetos, utilizados nos trabalhos em laboratório e casa de vegetação. Este último local é onde são feitos os testes para verificar quais métodos de aplicação do fungo é mais efetivo, para só então aplicá-lo no pomar do produtor.

Em comparação a outros métodos de controle, o uso de organismos biológicos é considerado mais vantajoso, por não causar impacto ao meio ambiente e a intoxicação do produtor e de consumidores da banana, além de poder ser aplicado em sistema de cultivo orgânico, onde não podem ser utilizados agrotóxicos.

Pesquisa

Marcelo Mendonça é pesquisador há 20 anos da Emdagro e desenvolve uma linha de pesquisa em entomologia, ciência que estuda os insetos e suas relações com o meio ambiente. “Desenvolvemos trabalhos na área de controle biológico de insetos pragas. A ideia é que a gente leve para o produtor algo que não seja tão danoso, como são os inseticidas químicos. A tendência mundial hoje é de crescimento do uso dos métodos biológicos para o manejo das diversas culturas agrícolas”, disse o pesquisador, ao informar que foram testados isolados de fungos entomopatogênicos nativos do estado de Sergipe, dos gêneros Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae.

O laboratório da Emdagro conta com um banco de fungos formado ao longo de 15 anos de pesquisa. “Utilizamos esse banco para selecionar isolados de fungos entomopatogênicos que possam ser utilizados para diferentes tipos de pragas”. Na primeira etapa da pesquisa, os insetos foram coletados na propriedade do produtor e levados ao laboratório, porque a pesquisa precisa de um ambiente controlado para atingir resultados confiáveis. Lá foram realizados experimentos onde foram observadas as infecções desses fungos nos insetos. Foram selecionados aqueles que apresentaram a maior efetividade no controle da praga.

Na segunda etapa, os pesquisadores buscam entender qual é a concentração do fungo necessária para utilizar no controle da praga. A partir daí é avaliado o método de aplicação do fungo no campo, se direto na planta ou se via isca atrativa. Testadas as formas de aplicação, o estudo pode ser levado com segurança à propriedade do produtor, onde serão avaliados.

Isca

A isca é geralmente feita de duas formas. Uma é o tipo telha, quando o pseudocaule da bananeira é dividido em pedaços de 30 centímetros e distribuído na área. Esses pedaços entram em processo de fermentação, que libera um odor atrativo ao inseto. Outro tipo, com o mesmo efeito da isca telha, é o corte do pseudocaule da bananeira que seria eliminado. Deixado entreaberto, o caule cortado dá o mesmo efeito do telha, porque o odor atrai o inseto e o produtor pode catar esses insetos e matá-los fora do pomar. É uma forma de controle da população.

A aplicação do fungo nas iscas também tem modelos diferenciados. Uma delas é por mergulho do pseudocaule na suspensão do fungo. Outro modo é aplicar ao redor da planta, como uma rega. Outro método que será testado é iniciar um plantio só com mudas de banana com os rizomas embebidos da suspensão do fungo.

 

 

Fonte: SECOM – SE

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