Belém realiza Festival Ilhas e Sabores com a participação de chefs do Polo Gastronômico de Sergipe 

 

Por Roberta Nascimento*
Enviada especial do TAC

Se a gastronomia tivesse de entrar em campo nessa Copa do Mundo, o Pará nos representaria com sua seleção de ingredientes de ouro: tucupi, açaí, castanha do Pará, jambu, cupuaçu, bacuri, uxi, priprioca, taperebá, cacau, cumaru e mais uma infinidade de ervas, farinhas deliciosas, pimentas e peixes incríveis. A identidade no prato do paraense tem a envergadura de um Pelé, legítimo filho do Brasil. E quem tem Pelé, não precisa jogar com Maradona, buscando ingredientes noutras terras. O chef Alex Atala que o diga, nosso maior atacante em mise en place da cozinha paraense e amazonense.

Belém revela que é craque em aplacar o paladar dos visitantes, faz tremer as papilas com jambu e impor golaços com seu saber-comer, na defesa dos hábitos distintivos do Pará construído à mesa. Desde 2015, a capital paraense ganhou o título de Cidade Criativa da Gastronomia, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Não é por nada, mas comer no Pará emociona. Chefs como Angela Sicilia, do Famiglia Sicilia, Thiago Castanho, do Remanso do Bosque, o casal Ilca Carmo e Paulo Anijar, do Santa Chicória, entre outros, inovam sem arrancar a legitimidade da comida popular e o vínculo afetivo com a terra, destacando a origem dos produtos direto das comunidades. Nada parecido com os restaurantes de elite de Sampa que usam tucupi com a pegada tailandesa, por exemplo, e tornam esse ingrediente, tão legítimo e brasileiro, o ouro negro da Amazônia, inelegível ao paladar popular, com a justificativa da cozinha fusion.

E não só isso: precisamos conciliar as distâncias e o comer dos diversos Brasis. Açaí com farinha e peixe frito é o feijão com arroz do paraense. A visita ao mercado Ver-o-Peso revela também que a logística de ingredientes no país é frustrante. A vontade de levar e provar tudo é inversamente proporcional ao limite imposto pelo mercado e pelas companhias aéreas, que não nos deixam comprar farinhas, polpas de frutas, peixes e castanhas. Seria mais fácil se esses produtos chegassem até nós. Como é que a gente vive sem o verdadeiro açaí, esse troço que vicia?

Desconhecemos o nosso bacalhau de Pirarucu, a R$30 o quilo, e estamos com supermercados lotados de Bacalhau do Porto com preços nas alturas, atravessando o Atlântico na maior facilidade. Eis um dos desafios da gastronomia nacional: facilitar o acesso de ingredientes às nossas próprias fronteiras para fortalecer a brasilidade.

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Festival Ilhas e Sabores

Égua, esqueci de explicar como tudo começou. A Missão Belém, viagem de iniciativa do Sebrae, foi apresentada aos empresários do Polo Gastronômico de Sergipe com o objetivo de vivenciar o Festival Ilhas e Sabores, que ocorreu de 15 a 17 de junho, véspera ao Dia Internacional da Gastronomia Sustentável.

A abertura do evento ocorreu com o Jantar Magno, com harmonização de vinhos e pratos com ingredientes da culinária amazônica no Restaurante Famiglia Sicilia.  Entre os chefs participantes, representando Sergipe, foi somente eu e a mama, a chef Rose Munhós do La Vecchia.  Do Rio, as chefs Ciça Roxo, Márcia Barbosa, e Teresa Corsão, de Minas Gerais, Beth Beltrão, de Pernambuco, Rivandro França, do Maranhão, Junior Ayoub e Rafael Libério, e do Pará, Sandro Mota e a anfitriã Angela Sicilia.

O festival já é um ‘jogo imperdível’ na gastronomia brasileira, tal qual uma final de copa. Esse abraço da cozinha do Pará ainda vai render muita história. O açaí e o cacau da Ilha do Combu são um capítulo à parte.

*Roberta é chef de cozinha e Mestre em Turismo pelo IFS

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