Nesse bate-papo com a Reumatologista Dra. Telma Paixão, uma apaixonada pela Medicina e inquieta em proporcionar melhor qualidade de vida para os pacientes que convivem com dor crônica, a especialista aprofunda como tratar a fibromialgia, uma doença crônica, de causa específica desconhecida. Cerca de 2% da população brasileira tem o diagnóstico da doença, principalmente mulheres com idade entre 30 a 50 anos. Trata-se de uma síndrome de amplificação da dor de pacientes altamente sensíveis a estímulos dolorosos e não dolorosos, como o toque, calor, frio e outros. “Com esse quadro de dor crônica importante associado a outros sintomas, há uma queda considerável na qualidade de vida, com reflexos nos aspectos social, profissional, econômico e afetivo destes pacientes”, enfatiza Dra. Telma. Confira nesta entrevista exclusiva:

 

Shirley Vidal (SV) – Como diagnosticar a fibromialgia? Alguns pacientes relatam começar com quadros parecidos como bursite ou tendinite. Como diferenciar de outras doenças?

Dra. Telma Paixão (TP) – O diagnóstico da Fibromialgia é essencialmente clínico, com a presença da dor generalizada há pelo menos 3 meses associada a sintomas como insônia, sono não reparador, fadiga (cansaço) e fraqueza, problemas de memória e raciocínio, dor de cabeça, dor abdominal, dormência/formigamento, depressão, ansiedade, entre outros. Na consulta com o paciente, com uma anamnese detalhada e exame físico cuidadoso, pode-se diferenciar quadros inflamatórios como bursite ou tendinite, que acometem locais específicos do corpo onde estão as bursas e os tendões respectivamente. Sendo que esses quadros inflamatórios, se não tratados adequadamente, podem cronificar e servir como gatilhos para desencadear e/ou perpetuar a Fibromialgia.

 

SV – O convívio com a dor pode ser amenizado? Se sim, de quais formas além da medicamentosa?

TP – O tratamento da Fibromialgia objetiva redução dos sintomas (melhora da intensidade da dor, da qualidade do sono, da fadiga e do transtorno do humor), com consequente melhora da funcionalidade e da qualidade de vida do paciente. Ele inicia no momento do diagnóstico com o acolhimento do paciente e a educação sobre a doença, explicando que é uma doença real e que apesar de limitante, tem caráter benigno, sendo que a adesão dele aos tratamentos é imprescindível para obter resultados positivos. O tratamento envolve medidas farmacológicas com medicações que modulam a dor e diminuem o efeito da sensibilização central. Elas devem ser individualizadas para cada paciente de acordo com os sintomas predominantes, grau de tolerância e efeitos colaterais. Subsidiariamente outras medicações são utilizadas para tratar os fatores periféricos geradores da dor e as comorbidades clínicas e psiquiátricas associadas. Porém, somente os fármacos não melhoram os sintomas da doença, sendo necessário uma abordagem multidisciplinar em associação com tratamento não farmacológico. Evidências científicas apontam resultados positivos para diversos recursos, o maior deles é a atividade física com exercícios cardiovasculares e fortalecimento, de forma progressiva, individualizada e contínua. Há evidências também da psicoterapia cognitiva comportamental, acupuntura, hipnose e estimulação elétrica nervosa transcutânea.

 

SV – A qualidade de vida do paciente no aspecto laboral e de convívio social são afetados. Há meios para esclarecer e minimizar os impactos?

TP – A Fibromialgia é uma doença muito importante, afeta milhões de pessoas em todo o mundo e muitas vezes é mal compreendida e subdiagnosticada. Por ser uma doença invisível, onde não há uma lesão dolorosa visível, porém com sintomas devastadores e debilitantes, com os quais os pacientes travam uma batalha constante consigo mesmo e com as pessoas ao seu redor. A educação em saúde para população com informações sobre a sobre a Fibromialgia levará a uma maior compreensão sobre a doença e seus sintomas, menor preconceito e um maior e melhor apoio para os pacientes que convivem com ela.

 

SV – O paciente diagnosticado tem prioridade no atendimento médico, seja em emergências públicas ou privadas?

TP – A Fibromialgia é equiparada à deficiência física, para todos os fins de direito, no Estado de Sergipe. Existe uma Carteira de Identificação da Pessoa com Fibromialgia (Cipfibro), documento apto para a comprovação da condição de fibromialgia e para o exercício desses direitos, garantindo garante atenção integral, pronto atendimento e prioridade no atendimento em serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social.

 

SV – Há uma carteira para pacientes de fibromialgia. Como proceder para ter esse direito assistencial?

Para adquirir a Cipfibro, o paciente precisa atestar a condição de Fibromialgia com um relatório médico sobre a doença emitido por um médico reumatologista, com o CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde) da doença, que será enviado junto com os documentos pessoais de identificação do paciente e uma fotografia 3×4, para o site https://fms.saude.se.gov.br/, para que sejam feitas a avaliação e a confirmação da doença e, consequentemente, a liberação da carteirinha.

 

SV – Há cura para fibromialgia ou possibilidades de regredir a doença?

TP – A Fibromialgia é uma condição médica crônica, significando que dura possivelmente por toda a vida. Porém, embora não exista cura, a Fibromialgia não é uma doença progressiva, nunca é fatal e não causa danos às articulações, aos músculos, ou órgãos internos. Com o tratamento, buscamos o controle dos sintomas, fatores físicos e emocionais, melhorando a qualidade de vida em todos os aspectos da vida do paciente.

 

SV – Fale um pouco sobre você. Quais projetos e iniciativas de Saúde vêm desenvolvendo. 

TP – Sou formada em Medicina pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), Residência Médica em Clínica Médica (FBHC) e Reumatologia (UFS), pós-graduanda em DOR (IPEMED Bahia), com o RQE 3807. Sou apaixonada pela minha área de atuação e inquieta com tantos pacientes convivendo com dor crônica e, consequentemente, com a qualidade de vida comprometida. Trabalho em Aracaju numa clínica especializada em DOR crônica, a Qualidor (@qualidor_se), onde há consultas com médicos especializados no assunto e diversos procedimentos médicos não invasivos para amenizar a dor e promover a saúde física e emocional desses pacientes, além de uma equipe multidisciplinar (psicólogo, fisioterapeuta, educador físico, nutricionista) para abordagem completa desse paciente com dor crônica. Tenho um projeto pelo instagram @dra.telmapaixao onde compartilho vídeos e informações de caráter educativo, para o perfil de pacientes que você atendo.

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