Não há como negar: a liberdade que encontramos para as relações veio com a pergunta “o que que eu vou fazer com essa tal liberdade?”, já que ter muitas opções pode ser tão desgastante quanto ter uma só.

À época das nossas avós, em que as mulheres tinham apenas uma parceria na vida “até que a morte nos separe”, a pouca possibilidade de escolha aprisiona. Hoje, a prisão é outra e está mais ligada ao movimento compulsório das relações.

São tantas as formas de encontrar uma parceria que já estamos confusos(as) sobre como fazer isso. A coisa se agrava com as pessoas que nasceram ali, nos anos

1980-1990, e cresceram assistindo à Lua de Cristal, num clima de romance com o príncipe que virou sapo logo no término do primeiro namoro. Hoje, na idade fértil e buscando uma parceria que agregue, acompanhe e acolha, a mulher “trintona” transita entre a bênção de viver sozinha e a lástima de precisar ter vida sexual com alguém minimamente aprazível na cama – o que sabemos que é raro e envolve o mínimo de intimidade no campo da heterossexualidade. Junto disso, a carreira tão sonhada agora está correndo nos trilhos, e ela já pode pensar em abrir o coração de novo, para compartilhar as conquistas e contar com uma parceria à altura.

Francisco Alves Ramos , Psicólogo

Hora da caça: em quais terrenos estão as parcerias possíveis

Nada mais de paquera no barzinho. A coisa agora virou virtual e os sinais precisam ser percebidos. Curtidas aleatórias em fotos de 2018, numa conta abandonada há tempos porque você precisou alimentar seu perfil profissional. Você ouve todo mundo falando sobre receber “foguinho”, “palminha” e coração nos stories, enquanto só consegue pensar que a última coisa que você postou foi a foto do seu sobrinho. Se nos stories a coisa está rápida demais, partamos para os famigerados aplicativos de relacionamento.

Ali, pronto, você poderá ser mais clara sobre suas intenções. A angústia do “passa para esquerda” porque ora o problema é a foto, ora é a descrição, só acaba quando você desiste e arrasta para direita só porque você lembra o que seu psicólogo disse sobre não ser tão exigente. Deu match! O problema está só começando… Aqui uma peneira em ação para que você não encontre um psicopata à espreita, um enviador de nudes aleatórios ou um garoto de 20 e poucos anos que dirá que “você está bem para uma mulher de 30 anos”. Se tudo der certo, e você encontrar alguém com o mínimo de senso e bom gosto, vocês podem marcar um date. Depois de tudo isso, é inevitável pensar: “era tão mais fácil quando as pessoas paqueravam em barzinho…”.

O encontro com o real

Na hora da escolha, você já separa os homens dos meninos. Tem aqueles que não conseguem escolher absolutamente nada, por medo de desagradar. Outros, já querem você na casa deles, sem nem saber seu nome. Você prefere o que dá menos trabalho, porque já está cansada, e marca o encontro num final de dia em que você trabalhou 8 horas seguidas em cima de um salto, porque no final de semana você só quer saber de ter paz. Chega, toma banho, escolhe roupa, demaquila e maquia de novo, depilação check, pega o carro e dirige pensando que depilação check, pega o carro e dirige pensando que, na pior das hipóteses, você vai conhecer um colega novo. As surpresas variam, é claro.

Os dates envolvem desde homens que passam 2 a 3 horas falando sobre si, até homens que não dizem absolutamente nada. Também tem aqueles que bebem até não enxergar mais você, ou aqueles que você prefere beber até não enxergá-los mais. O encontro pode acabar no motel, na sua casa ou na dele (muitas vezes, você na sua e ele na dele). No outro dia, você ainda precisa pensar no tal joguinho, guias instruções ninguém me entregou até agora. Se gostou, você pode dizer que gostou? Ou finge amnésia anterógrada para não parecer… como dizem.. “emocionada demais”? Confusa, você não manda nada e depois de 3 dias descobre que precisa abrir o famigerado aplicativo de novo, porque o rapaz sumiu. Volta ao início.

Ciclos e Personagens

O problema de ter 30 e poucos anos é que você já sabe o que quer. E o que você quer parece estar casado, ou ser gay, ou estar em outro planeta que não este. Aí você lembra do psicólogo: minha régua não está muito alta? Afinal de contas, há garotas mais jovens, com mais tempo, mais disposição e beleza. Como você é uma mulher que estudou muito sobre sororidade e fluidez sexual, guarda a dor de cotovelo na caixinha e acaba cogitando ficar com elas também. Mas você sabe: elas não ficarão com você porque você mal sabe flertar por stories.

No final, as contas não batem. Encontrar alguém se tornou um pesadelo cansativo para quem prioriza o próprio bem estar. A consciência que o feminismo nos trouxe sobre os homens colocou as mulheres num lugar em que encontrar um homem minimamente aprazível parece uma missão impossível. E aí vivemos num filme de 007 da Shereca Holmes em busca de um Watson decepcionante.

Burnout da paquera

O termo Burnout vem do inglês, significa “queimar completamente” e foi criado para descrever o estado de exaustão física e emocional causado pelo estresse prolongado no ambiente de trabalho. No campo do amor, vemos a energia das mulheres se apagando, dia após dia, date após date, relação após relação.

Desistir às vezes é o ato mais consciente, como um descanso merecido após tanto gastar maquiagem e otimismo em encontros frustrantes. Mas, como diria Freud: “se você ama, sofre. Se não ama, adoece”.

Francisco Alves Ramos – psicólogo (CRP 19/3598), terapeuta sexual e de casais.  Contatos: (79) 996657236. Instagram: @franciscoalvespsi

 

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