Por Fredson Navarro

 

Após três anos de muitas dificuldades na economia provocadas pelos impactos da pandemia da Covid-19, o mercado reagiu com a retomada dos eventos e expansão do empreendedorismo em Sergipe. Centenas de trabalhadores que perderam o emprego precisaram se reinventar e investir em novas áreas de trabalho como o setor de eventos que foi um dos mais atingidos mas vem se recuperando e retomando o crescimento desde o ano passado.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,4% no primeiro trimestre deste ano. Este é o sexto trimestre consecutivo de alta na atividade econômica no país, o maior patamar da série histórica iniciada em 1996. No total, o setor de eventos é responsável por 4% do PIB no país.

Crescimento dos MEIs
Um dos agentes responsáveis por essa alta tem sido a atuação dos Microempreendedores Individuais (MEIs). Segundo dados do Ministério da Economia, existem no Brasil mais de 15 milhões destes profissionais, que juntos representam 70% das empresas em atividade no país e somam 20% do PIB brasileiro. De acordo com o Sebrae, nos últimos três anos (de março de 2020 até abril de 2023), o número de MEIs em Sergipe saltou de 62.057 para 101.818, o que representa um aumento de 63,7% no número de novas formalizações.

“No auge da pandemia registramos o crescimento do empreendedorismo por necessidade. Com a desburocratização da regulamentação desses prestadores de serviços, a tendência é que o subsídio desses profissionais na economia aumente cada vez mais. Essa crescente representa não só a busca pelo sonho de ter sua própria empresa, mas indica também a necessidade em repor o lucro que foi perdido, causado pela pandemia”, explica Lara Andrade, analista técnica do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

As principais vantagens de ser MEI são: obtenção do CNPJ gratuitamente; tributação reduzida; declaração de faturamento simplificada; garantia de benefícios previdenciários; possibilidade de contratar um funcionário; empréstimos bancários direcionados; chances de fazer negócios B2B, além de ter direito à aposentadoria, auxílio-doença, salário-maternidade, pensão por morte e auxílio-reclusão.

Novos microempreendedores
Profissionais desempregados ou jovens em busca do primeiro emprego, encontraram uma oportunidade para garantir uma remuneração ao comercializar produto ou serviço. “Muitos perderam o emprego e seguiram com a construção do seu negócio e os que empreenderam por necessidade se depararam com um mercado promissor. O setor de eventos, por exemplo, que sofreu durante a pandemia, retomou o crescimento com a volta 100% da agenda corporativa, segundo a Associação Brasileira de Eventos Corporativos (Abrape). O Sebrae atua no auxílio dos novos microempreendedores com capacitações e orientações”, completa Lara Andrade.

Foi o caso de Mércia Martins que trabalhava como vendedora em uma loja de departamento, no Centro de Aracaju. O estabelecimento fechou as portas nos primeiros meses da pandemia. “Fiquei desempregada e desesperada. Busquei uma nova fonte de renda e fiz cursos de culinária no Sebrae. Apliquei o dinheiro que recebi com a recisão, seguro-desemprego e do Auxílio Brasil também. Montei uma cozinha com os equipamentos e comecei a vender bolos e doces para os vizinhos. A procura foi crescendo com a divulgação no Instagram. Aderi ao MEI, formalizei o negócio e expandi para um buffet que hoje é fornecedor para eventos como casamentos, shows e aniversários”, orgulha-se.

Mas antes de colocar a mão na massa, Mércia estudou a melhor forma de aplicar o dinheiro que recebeu. “Estava com tempo livre e aproveitei para estudar. Fiz muitos cursos com o Sebrae como gastronomia, atendimento ao cliente, oratória, fidelização do cliente, redes sociais e a capacitação que ensina como empreender que me orientou como criar o MEI e tudo foi melhorando. Hoje sou mais feliz, recebo cinco vezes mais e ainda tenho uma funcionária que me ajuda nas demandas da empresa”, vibra a microempreendedora.

Sebrae apoia novos microempreendedores
Entre os cursos que o Sebrae disponibiliza para os novos microempreendedores estão: Aprender a empreender; Iniciando um Pequeno e Grande Negócio; Como controlar gastos na prestação de serviço; Como definir preço de venda, Como Conquistar e Manter Clientes; Como administrar uma empresa familiar e Atendimento ao Cliente.

Mel Correa que é administradora e se formou em Rádio e TV pelo Senac, começou a ministrar cursos no Sebrae justamente na pandemia também. Encontrou uma nova fonte de renda e passou a auxiliar os novos microempreendedores.

“Para mim é um orgulho muito grande ser consultora e instrutora do Sebrae. Compartilhar meus conhecimentos e orientar os novos microempreendedores é muito prazeroso porque eles chegam cheios de vontade de aprender para executar. Faço capacitações em planejamento, atendimento ao cliente, marketing digital, comunicação para vendas e estudo de viabilidade do negócio antes da abertura. E alerto que há um detalhe muito importante que provoca grandes prejuízos e que age de forma invisível em todos os negócios. São os sabotadores da mente e as crenças limitantes que são invisíveis aos olhos, mas fielmente impressos em seus resultados. Oriento também como garantir a saúde e eficácia do negócio. Assim como uma boa casa precisa de um excelente alicerce, um bom negócio precisa de uma mente imparável”, garante a instrutora que ministra cursos em diversos municípios.

Anderson Muniz é um jovem de apenas 21 anos e encontrou na crise uma grande oportunidade de empreender. “Nunca havia trabalhado e fui beneficiado com o Auxílio Emergencial do Governo Federal, juntei o dinheiro e realizei o sonho de trabalhar como fotógrafo. Comprei o equipamento, fiz cursos no Sebrae e hoje trabalho em eventos. A demanda é tão grande que eu não paro um fim de semana em casa. Agora comecei a fazer um curso de marketing de forma digital”, comemora.

Expansão do mercado de eventos
O empresário do ramo de eventos, Teo Santana, também está com a agenda cheia de compromissos em todo o estado desde o ano passado.

“O setor sofreu muito com a pandemia. Foi o primeiro a parar e o último a retornar mas agora chegou a nossa vez e só temos motivos para agradecer. Realizo grandes eventos como shows e formaturas. Sou contratado também por prefeituras para prestar serviços. Tenho os meus funcionários fixos mas preciso de 90% de fornecedores para atender a minha demanda e sempre contrato os profissionais que são MEIs pela facilidade da confiança da qualidade do serviço e também em prestar contas”, explica o empresário.

Teo Santana disse que contata cerca 200 profissionais por eventos, entre eles seguranças, músicos, sonoplastas, garçons, jornalistas, fotógrafos, videomakers, montadores de estrutura, decoradores, recepcionistas, atendentes de caixa, maquiadores, serviços gerais além da equipe do buffet.

A cantora Maraísa também comemora a retomada dos eventos. “Vivemos um momento muito difícil, cheio de incertezas. Os shows pararam e começamos a fazer lives para alegrar as pessoas mas ninguém conseguiu ganhar dinheiro para pagar as contas. Agora tudo voltou ao normal e os shows estão a todo vapor. Estou muito feliz com a retomada dos eventos pós-pandemia porque tivemos a oportunidade de alavancar e movimentar a economia com o retorno dos eventos, um dos setores que mais sofreu no ápice da pandemia. Estou feliz com a agenda cheia nesses festejos juninos”, vibra.

A artista também aderiu ao MEI e lista alguns benefícios . “O MEI me ajuda em muitos sentidos desde a a obtenção do CNPJ gratuitamente, que me oferece uma tributação reduzida, declaração de faturamento simplificada, garantia de benefícios previdenciários, possibilidades de realizar empréstimos, posso ainda contratar um funcionário”.

Casamentos em alta
Nunca se trabalhou tanto na empresa do cerimonialista Vailton Linhares que atua no mercado de eventos, focado em casamentos, há 10 anos. São constantes reuniões de planejamento, contato com fornecedores, locação de material e novos contratos.

“O mercado que no ano passado começou a se recuperar dos prejuízos da pandemia, este ano decolou. As pessoas estão felizes e querem comemorar. Os casamentos retomaram com muita força. A demanda reprimida está acelerando os casamentos e os casais não querem mais perder tempo para realizarem o grande sonho. E os convidados também estão super empolgados e ninguém quer perder nada, nem um aniversário de boneca”, diverte-se.

Em 2022, somente na empresa de Vailton Linhares, a procura de clientes querendo casar cresceu 500% em comparação com 2020 que os casamentos que foram mantidos tiveram que se adaptar ao novo normal com redução de 90% dos convidados para evitar aglomeração. “Muitos casamentos foram feitos apenas com os noivos e padrinhos. Os convidados acompanharam de forma virtual. Foi uma saída para o momento mas era muito frio para o momento que é único e muito especial. Agora estamos felizes com o retorno dos casamentos presenciais como a gente gosta”, comemora.

O aumento da procura pelos serviços que Vailton falou não é uma exceção em Sergipe. Esse fenômeno se relaciona com a demanda reprimida no país. Vários eventos que não aconteceram durante a pandemia, agora estão sendo realizados.

De acordo com o Portal da Transparência do Registro Civil, até o dia 20 de maio deste ano, 936.820 casamentos foram realizados no Brasil, superando o ano passado onde 273.009 casamentos foram realizados.

Em Sergipe, de acordo com o Sebrae, em 2020, apenas 4.671 casamentos foram registrados. O número saltou para 7.276 em 2021 e manteve na mesma média (7.203) no ano seguinte. Neste ano, até o dia 15 de maio, 2.113 noivos subiram ao altar e a expectativa do setor que é que este número triplique até dezembro.

“Se tem muitos casamentos, tem trabalho para muita gente. O primeiro passo é contatar meu serviço de cerimonialista para o casal começar a sonhar com o grande dia. Em seguida vou analisar e começar a pensar no evento que atenda às necessidades deles. Ofereço as opções de fornecedores para cada casal escolher os que preferem. Em média, para cada casamento, entre 25 e 30 fornecedores são contratados. Cada empresa atua com a participação de até 10 profissionais para atender a demanda e a maioria usufrui dos benefícios do MEI. E que venham mais casamentos para a gente sonhar junto com os noivos e faturar também. Nosso trabalho é muito lindo e comprometido com o serviço de excelência”, orgulha-se Vailton.

Eventos aquecem a economia
O presidente da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), concorda que o fenômeno do sucesso dos eventos está relacionado aos efeitos da pandemia que o setor ainda sente.

“O segmento de eventos de cultura e entretenimento continua em franca recuperação no país mas já pode comemorar os resultados dos últimos 20 meses. . Dos 2.147.600 empregos gerados no Brasil, entre janeiro e setembro, 229.437 foram 14.262 especificamente no setor de eventos, representando, um crescimento de 10,7%. Os índices constam do Radar Econômico, com base em dados do Ministério do Trabalho e Previdência. Sergipe acompanha o aumento e com certeza a tendência é continuar crescendo e gerar mais empregos formais e informais”, garante Gustavo Paixão.

No auge da pandemia, na tentativa de reestruturar o mercado, a Abrape fez um convênio com o Sebrae para formar novos profissionais.

“Hoje não faltam oportunidades e o Sebrae ajudou muito nesta retomada. Preparou os profissionais para encarar o momento e se qualificar para novas áreas de trabalho. Os pequenos negócios expandiram e estão contribuindo com o desenvolvimento econômico de Sergipe e de todo o país. O momento é de empreender de alguma forma, seja para mudar de área de atuação ou adquirir uma segunda fonte de renda”, garante Paixão.

Os pequenos negócios respondem por 99% das empresas brasileiras e 30% do PIB, beneficiando direta ou indiretamente mais de 40% da população. Eles concentraram quase 80% dos empregos formais gerados no Brasil em 2022, desempenhando um papel fundamental na retomada econômica pós-pandemia.

A casa de eventos gerenciada por Lucas Amorim, localizada na Zona de Expansão de Aracaju, registrou no ano passado recorde no número de eventos. “Já atingimos um número mais alto que antes da pandemia e precisamos contratar 12 profissionais fixos A cada fim de semana contratamos serviços de pelo menos 20 fornecedores em diversas áreas e a expectativa é dobrar as contratações até o fim do ano”, planeja.