Especialista defende retorno do ‘ligeirinho’ como alternativa

O transporte público da Grande Aracaju possibilita o acesso diário a mais de 200 mil passageiros a serviços essenciais, democratiza a locomoção das pessoas e garante o direito de ir e vir. De acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Setransp) o serviço que atende passageiros da capital e região metropolitana é oferecido com uma frota de quase 600 ônibus.

Na contramão, a cada dia cresce o número de carros circulando em Aracaju e o trânsito fica congestionado principalmente nas avenidas e ruas do Centro durante os horários de pico. Nos últimos cinco anos, o Setransp registrou uma redução de quase 20% dos passageiros que utilizam o sistema de transporte público. Quanto mais carros nas vias, mais engarrafamentos, transtornos e poluição ao meio ambiente. Mas como desafogar o trânsito? Sergipanos garantem que se o serviço ofertado melhorar podem substituir o automóvel pelo ônibus do transporte público.

“Trânsito de Aracaju está superlotado de carros”, avalia presidente do Setransp

“O trânsito está superlotado com muitos carros e em cidades como São Paulo e Recife as pessoas já têm a cultura de deixar o veículo em casa e utilizar o transporte público para colaborar com a fluidez do trânsito, além de economizar, colaborar com o meio ambiente e desfrutar da comodidade. Em comparação com outras capitais do país, o transporte público de Aracaju está bem com ônibus novos. A frota está com equipamentos modernos como GPS, câmeras, elevadores e aplicativos que funcionam. Mas ainda precisa avançar muito. A situação atual não é satisfatória, mas é uma evolução do sistema”, explica o presidente do Setransp, Alberto Almeida.

De acordo com a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT), mais de 170 mil carros circulam diariamente na capital. A quantidade de carros particular é expressiva e estima-se que para cada 40 automóveis com 1,3 pessoas, um ônibus com 50 passageiros.

Adriano Cabral sugere o retorno dos ‘ligeirinhos’ e melhorias nos ônibus convencionais (Foto: Vieira Neto)

Transporte alternativo
Para o técnico em transporte público, Adriano Cabral, é possível melhorar o sistema oferecendo melhorias e convencer a população que é uma grande vantagem ir trabalhar ou estudar utilizando o transporte público.

“Mas antes de qualquer mudança é necessário fazer um estudo técnico por especialistas por uma instituição que conhece as necessidades de Aracaju para identificar as demandas. O estudo deve ser aprovado por um conselho municipal de transporte e em seguida as mudanças devem ser feitas através de uma licitação. A população busca conforto, economia e segurança mas nem sempre encontra. É um problema ter que sair de casa, andar muito até chegar em um ponto de ônibus e aguardar o transporte para ir cumprir com os seus compromissos. Tem muitas ruas estreitas que não têm estrutura para a passagem de ônibus, neste caso seria muito bom colocar linhas com os micro-ônibus. O transporte alternativo pode desafogar o trânsito”, aposta.

Cabral lembra que os micro-ônibus, chamados ‘ligeirinhos’ foram implantados na gestão de Almeida Lima na década de 90 e saíram de circulação em 2013. “Eles funcionavam muito bem porque apesar de ter uma tarifa diferenciada oferecia conforto ao passageiro que pegava o transporte nas proximidades da sua residência e usufruía de ar-condicionado e poltronas confortáveis. Como o veículo é pequeno não era necessário esperar muito tempo para encher. Seria uma boa opção para o cidadão deixar seu carro em casa e utilizar o transporte público. Existe o inchaço muito grande de veículos nas vias da capital e precisamos evoluir para resolver este problema que tende a crescer. Os ônibus estão disputando espaço com os carros”.

Existe demanda também para os ônibus tradicionais, garante Cabral (Foto: Vieira Neto)

Mas além de sugerir o retorno dos ‘ligeirinhos’, Adriano Cabral explica que os ônibus convencionais devem continuar.

“Os micro-ônibus são alternativas para linhas que não têm muito movimento, para evitar que o passageiro aguarde no ponto por mais de 25 minutos e em regiões onde as avenidas e ruas que não foram planejadas para o crescimento da cidade e não suporta o trafego de ônibus. O ligeirinho tem a vantagem de oferecer mais conforto ao passageiro. Tem local que pode ter os dois, o micro-ônibus é mais rápido e o usuário não precisa aguardar muito. Uma linha que tem demanda de até 30 pessoas também pode ser substituída por um ligeirinho. Quem tem seu veículo não vai deixar em casa para enfrentar superlotação em ônibus, sem ter a certeza da qualidade, pontualidade e segurança”, garante.

Além disso, Cabral defende que o Índice de Passageiros por Quilômetro (IPK) deve ser levado em consideração. “É necessário que seja analisado de forma isolada o IPK das vias maiores e mais largas onde há condições do tráfego de ônibus para conseguir reduzir as taxas e oferecer mais conforto. Mas existe demanda para os ônibus convencionais em cima da sua necessidade e inviabilidade de circulação e também para os micro-ônibus. O sergipano vai começar a usar o transporte público para trabalhar e deixar para usufruir do seu carro no momento de lazer. Vai economizar, descongestionar o trânsito e poluir menos o meio ambiente”, explica.

O presidente do Setransp Alberto Almeida informou que uma licitação já está em andamento e concorda com a análise de Adriano.

Licitação deve oferecer mais conforto aos passageiros (Foto: Vieira Neto)

“O prefeito Edvaldo Nogueira já anunciou a licitação que vai avançar ainda mais para melhorar o transporte público. A estrutura vai ser melhorada e os usuários vão ter mais conforto e segurança. Percebemos que o micro-ônibus é fundamental em algumas regiões e a implantação vai ser possível com a licitação. A nova rede de transporte com a licitação vai colocar mais ônibus circulando. Inserir ônibus passando em todas as ruas é impossível mas a rede vai atender a maior parte da população”, garante.

O superintendente da SMTT, Aristóteles Fernandes, informou que os micro-ônibus são fundamentais e que frota conta com alguns utilizados em linhas com menor fluxo e um trajeto mais curto. “Os ligeirinhos, que possuíam mais conforto e tarifa mais alta pararam de circular em 2013 por iniciativa da empresa que oferecia esse serviço diferenciado, porém não obrigatório”.

“Após as melhorias, é necessário fazer uma campanha para mostrar os resultados e incentivar que o cidadão deixe seu carro na garagem e utilize o transporte público para trabalhar e estudar. O uso do transporte coletivo traz vantagens na ocupação do espaço viário disponível. Isto está relacionado à capacidade dos veículos de transporte coletivo de acomodar uma quantidade muito superior de pessoas. Em países desenvolvidos existem a cultura de o cidadão deixar seu carro em casa e utilizar o transporte público para trabalhar colaborando com a fluidez o trânsito e preservação do meio ambiente, além de economizar. A sugestão é deixar para utilizar o carro nos horários de lazer”, reforça Adriano Cabral.

Ambientalista sugere o uso do transporte público para poluir menos o meio ambiente

Meio Ambiente
De acordo com um estudo realizado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) os carros de passeio são responsáveis por 65% das emissões de poluentes do setor de transportes e os ônibus respondem por 19% destas emissões.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), reforça o estudo do IEMA e indica que 20% das emissões globais de CO2, que mede a quantidade de gases de efeito estufa como o dióxido de carbono e o metano, vem do setor de transportes. No Brasil, o setor é responsável por 9% da poluição do ar. Um dos dados mais alarmantes sobre a quantidade de poluição gerada por quilômetro, relacionando o tipo de combustível, distância e ocupação média dos veículos. Em todos os cenários, os carros foram os que tiveram maior índice de poluição, alcançando a marca de 60% de participação.

“Vale destacar que os veículos mais velhos poluem mais. Foram inseridos nos mais novos filtros despoluidores que diminuem a poluição mas continuam poluindo, isso vale para os carros e também ônibus. Além do nosso deslocamento, a opção por esse meio de transporte coletivo traz benefícios para o nosso planeta. Utilizar o ônibus como seu meio de transporte ajuda a reduzir o número de veículos de transporte individual circulando nas ruas e emitindo poluição. O dióxido de carbono, o CO2, que normalmente é liberado na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis, como a gasolina, é responsável por grande parte da poluição do planeta, afetando a preciosa camada de ozônio”, alerta a ambientalista Carla Zoaid, que atua na Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Sema).

Edinaldo Roseno disse que trocaria o carro pelo ligeirinho para trabalhar

Novos usuários
O designer de interiores Edinaldo Roseno mora no Bairro Aeroporto, destaca algumas dificuldades da sua região e garante que deixaria seu carro em casa e utilizaria o transporte público se atendesse às suas necessidades.

“Não utilizo o transporte público mas percebo que os ônibus demoram muito para passar na avenida onde moro. Preciso atender meus clientes e visitar fornecedores no Centro de Aracaju diariamente e seria bem mais cômodo e barato ir de ônibus, mas preciso cumprir com meus horários. A primeira dificuldade é esperar o ônibus, depois enfrentar a superlotação e calor levando em consideração que trabalho com roupa social e a temperatura de Aracaju é sempre muito alta. Se os ligeirinhos voltassem e passassem perto da minha casa eu trocaria imediatamente pelo meu carro com a certeza que seguiria meu destino em poltrona confortável com ar-condicionado. Está muito caro manter o automóvel e além disso é um grande transtorno circular nos horários de pico e encontrar vaga para estacionar”.

O professor Carlos Bastos que mora no Conjunto Augusto Franco, na Farolândia, também garante que trocaria o carro pelo transporte público. “Os ônibus não passam perto da minha casa e é um transtorno ter que ir até o fim de linha, esperar, enfrentar o calor e passar por diversas regiões antes de chegar até o colégio onde ensino que fica no Conjunto Bugio. Já fui e cheguei no trabalho muito estressado, perdi muito tempo. Entendo que não é econômico para o ônibus seguir viagem vazio e por isso precisa circular em diversas ruas mas é muito desgastante. Eu era usuário do ligeirinho e estava muito satisfeito com o serviço, a tarifa era um pouco maior mas valia à pena. Se voltasse eu seria o primeiro e utilizar e deixar meu carro em casa” .

A dona de casa Maria Isabel Neves também era usuária do ligeirinho e lamenta que o micro-ônibus saiu de circulação. “O ligeirinho era muito prático e confortável. Moro no Inácio Barbosa e utilizava sempre para ir ao Centro fazer as compras de casa e resolver algumas coisas nos bancos mas agora acabo pagando mais caro contratando serviços de táxis ou Uber. Não tem como trazer compras no ônibus convencional porque nem sempre consigo uma poltrona livre para me acomodar”, explica.

Marta desistiu de comprar carro e prefere utilizar o transporte público

Custo x Benefício
A jornalista Marta Costa é usuária do transporte público e nesta semana resolveu comprar um carro. Foi até a concessionária, escolheu o veículo e na hora de fechar o negócio desistiu.

“Fiz uma avaliação e percebi que é muito caro manter um carro. O preço do combustível está muito alto e além disso tem os impostos, manutenção e seguro. Para mim vale à pena usar o ônibus para trabalhar. Mas nem sempre consigo porque tenho pressa e não posso esperar e muitas vezes acabo utilizando o táxi ou Uber. Melhorando a qualidade vai ser muito bom e vou economizar mais porque vou utilizar ainda mais. O transporte público daqui tem uma grande vantagem que beneficia o usuário que é a integração. O passageiro pode sair da Barra dos Coqueiros e ir até São Cristóvão mudando de ônibus mas pagando uma única passagem”, elogia.

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