Quem tem filho (a) pequeno (a) já sabe: a gripe pode acontecer em qualquer época do ano, mas nesse período, que vai de março a junho, os casos de vírus respiratórios aumentam consideravelmente e os pais precisam redobrar a atenção. Na infância, a imunidade não é capaz de evitar infecções com a máxima eficiência, e isso acaba deixando as crianças mais vulneráveis. O reflexo disso é a superlotação das urgências pediátricas.

Os profissionais da saúde têm chamado a atenção para o aumento dos casos de adenovírus, que são vírus pertencentes à família Adenoviridae. Foram isolados pela primeira vez em 1953. Esses vírus estão relacionados à diferentes problemas de saúde, como infecção aguda do trato respiratório; cistite hemorrágica; diarréia em crianças; conjuntivite; meningoencefalite; falência hepática em imunocomprometidos; e pneumonias fatais em neonatos (recém-nascidos que ainda não têm um mês de vida).

O adenovírus é um vírus basicamente respiratório, ainda que variantes genéticas possam atuar em partes diferentes do corpo (como o caso do Adenovírus 41, que no início de 2022 foi apontado como o causador de alguns casos graves e misteriosos de hepatites em crianças). Assim, é esperada uma combinação de sintomas como febre, dor de garganta (às vezes com placas purulentas imitando as infecções bacterianas), coriza, congestão nasal, espirros, tosse (frequentemente produtiva), dor de cabeça e prostração. Menos comum, podem ocorrer conjuntivite, otite, dor abdominal e diarréia.

Dr Renato Amorim dos Santos, pediatra

Segundo o médico pediatra Dr Renato Amorim dos Santos, membro titular da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a hipótese mais aceita pelos pediatras tanto do Brasil, como do exterior, para o aumento de casos de adenovírus, é a do apagão imunológico. “Desde março de 2020, quando iniciou o período de distanciamento social das crianças, até agosto de 2021, data da reabertura das escolas, observamos um verdadeiro desaparecimento dos casos de resfriados e gripes em crianças. A partir de então, fomos assolados por um verdadeiro pandemônio de viroses, das mais variadas – alguns vírus, como o sincicial respiratório (VSR), chegaram a ocorrer em surtos mais do que uma vez em um único semestre”, apontou.

O pediatra ressalta que, embora careça de evidência científica, pensa-se que o longo, ainda que necessário, distanciamento social infantil tenha provocado uma espécie de “desaprendizado” no sistema imunológico de muitas crianças, permitindo que vírus que antes eram rapidamente neutralizados após contato, agora conseguem causar infecção e doenças. Assim, vários surtos de vários vírus em sequência têm ocorrido. Um deles, de meados de setembro até agora, foi o adenovírus.

Como os pais devem agir?

Dr Renato Amorim orienta que é preciso ter muita calma para lidar com uma criança enferma. Segundo ele, isso é essencial tanto para que a criança perceba nos pais um porto seguro, quanto para que a observação da progressão dos sintomas permita que os próprios pais se sintam capazes de manter os cuidados domiciliares, mantendo a vigilância dos sinais de alerta e identificando o momento certo de conduzir a criança à urgência.

Enquanto os sintomas de resfriados comuns são mais breves, na adenovirose, a febre costuma durar entre 5 e 7 dias. Já os sintomas catarrais podem alcançar até 14 dias de duração. “Alguns pacientes, em estado de infecção latente, podem permanecer com o vírus presente em alguns órgãos linfoides (exemplo: amígdalas e adenoides), gerando dor de garganta prolongada ou mesmo sintomas gripais por períodos bem mais longos que as duas semanas médias de duração. Nesses casos, a avaliação do otorrinolaringologista e do infectologista são necessárias, como complemento à do pediatra assistente da criança”, comenta o especialista.

O tratamento consiste em atenuar os sintomas como medicamentos para dor, febre, vômitos e hidratação

Tratamento

Não existe medicação para exterminar o adenovírus. Esse trabalho é exclusivo do sistema imunológico do doente. Portanto, as medidas terapêuticas são semelhantes às das outras viroses respiratórias: medicamentos para dor, febre, vômitos, hidratação (nos casos de diarreia, com soro de reidratação oral), limpeza da cavidade nasal com soro fisiológico, repouso quando possível. Xaropes mucolíticos, expectorantes, antialérgicos, sedativos de tosse, fitoterápicos têm pouco ou nenhum efeito sobre doenças respiratórias agudas, ainda que o comércio dessas medicações ferva durante os surtos de gripes; mais oneram os pais, que já têm gastos excessivos com saúde o ano todo, do que trazem real benefício no combate aos sintomas.

Para prevenção da doença causada por adenovírus devem ser adotadas medidas simples, como lavar sempre as mãos e evitar contato próximo com pessoas doentes. É importante também cobrir a boca e o nariz sempre que tossir ou espirrar, de modo a evitar a transmissão da doença para outras pessoas.

“É importante ressaltar que, ainda que haja métodos diagnósticos mais precisos para adenovírus, os mesmos não são liberados pelos convênios para realização nos prontos-socorros da rede privada, e seu custo-benefício de serem pagos de forma particular nos laboratórios é ruim. Sendo assim, o diagnóstico é presumido, e por isso precisa de avaliação do pediatra para tal. Não há vacinas desenvolvidas para prevenção das adenoviroses. Porém, como se trata de uma infecção sazonal, ocorre em períodos limitados durante o ano e nem sempre ocorrem surtos tão longos ou tão frequentes. Apesar de ter sido uma doença prevalente nos meses anteriores, no mês de março observamos redução da incidência de casos”, concluiu.

 

 

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