A crise sanitária e humanitária que atingiu a Reserva Indígena Yanomami, situada entre os estados de Roraima e Amazonas, deixou o Brasil e o mundo perplexos. São casos de mortes por desnutrição, malária e pneumonia que atingem, em maior número, crianças e idosos, devido às poucas condições de buscar os próprios alimentos e por já estarem em condições bastante fragilizados. Pelo menos 570 crianças morreram nos últimos anos e 50% estão subnutridas.

A situação de extrema vulnerabilidade da população yanomami fez com que o governo federal realizasse uma grande operação de salvamento que envolveu centenas de profissionais. Em um primeiro momento, foi decretada a situação de emergência sanitária e o envio de uma força tarefa do Sistema Único de Saúde (SUS), que posteriormente envolveu diversas outras áreas, como assistência social, combate à fome e segurança pública, já que a situação dos indígenas também tem a ver com o garimpo ilegal na região.

O médico sergipano Dr Endrew Diego Ribeiro Barroso, que atua no Samu 192 Sergipe, foi um dos profissionais que atuaram na força tarefa. Ele foi convidado para a missão através da médica Drª Renata Dias, que também atua no Samu. No dia 20 de janeiro ele recebeu uma mensagem dela, via whatsapp, avisando que os coordenadores da Força Nacional do SUS tinham pedido algumas indicações e devido ao treinamento e bons resultados, ela estava o indicando.

O médico se deparou com casos de desnutrição, malária, desidratação, verminose, pneumonia, doença pulmonar obstrutiva crônica, diarreias de diferentes etiologias

“Na hora passou um filme em minha cabeça, pois já era de meu interesse atuar em uma causa humanitária, não importasse onde, além de sempre ter tido vontade de conhecer e adentrar em terras indígenas pouco exploradas. A situação é chocante. São casos de desnutrição, malária, desidratação, verminose, pneumonia,  doença pulmonar obstrutiva crônica, diarreias de diferentes etiologias. É impossível mensurar a média de tempo que talvez já se exista uma desassistência em algumas áreas indígenas, somadas há uma série de fatores externos e internos, desde o acesso, quanto aos programas de assistência, suporte, gerenciamento de verbas e incentivo aos profissionais que ali estão”, disse.

Missão dada é missão cumprida

Convite aceito, Dr Endrew partiu no dia 23 de janeiro para um dos maiores desafios da sua ainda jovem, mas promissora carreira médica. Do aeroporto de Aracaju, ele seguiu com destino a Brasília. Lá, ele foi recepcionado por coordenadores da Força Nacional do SUS e foi direto a um dos prédios do Ministério da Saúde, para aguardar a chegada de todos os outros voluntários. Em seguida, ele e mais 12 profissionais se dirigiram à Base da Força Aérea Brasileira (FAB), com escala na Base Aérea de Cachimbo, situada no Pará e de lá o grupo seguiu para Boa Vista.

Devido à necessidade urgente de apoio e ajuda, a proposta inicial era de permanecer 10 dias em Boa Vista. Porém, ao chegar lá e após uma série de levantamentos, foi observado que existia uma necessidade ainda maior de um suporte adicional e foi perguntado aos voluntários quais teriam interesse em estender por mais uma semana a ação in loco na terra indígena. “No total, foram 17 dias de muito aprendizado e imerso literalmente em algo que considero impagável”, disse Dr Endrew.

Até então, por medidas de segurança, os profissionais estavam destinados apenas ao apoio à Casa de Apoio a Saúde Indígena (Casai), onde os atendimentos eram exclusivos aos indígenas que estavam ali alojados, familiares de pacientes que aguardavam alta de hospitais; e até mesmo de pacientes que já tinham tido alta dos hospitais e que estavam esperando de alguma forma o retorno para as  suas malocas de origem, e acabam devido ao tempo de espera, ficando doentes novamente, por diferentes enfermidades.

Dr Endrew e mais 11 voluntários de diversos estados participaram da Força Tarefa do SUS

No dia 31 de janeiro, os voluntários compraram o “rancho”, uma espécie de feira de suprimentos para que pudessem adentrar em território in loco, já que o acesso é restrito, feito por aeronave monomotor, com capacidade de apenas cinco pessoas, com voo de aproximadamente uma hora e 30 minutos saindo de Boa Vista até a Reserva Indígena Yanomami. Lá, eles ficaram alojados no Posto de Saúde de Surucucu, onde a realidade é ainda mais delicada, pois a carência e deficiência de suprimentos médicos, alimentação indígena e saneamento básico, é ainda mais escassa.

Atendimentos

O médico socorrista relata que na própria Casai, apesar de ser dentro da capital, já era possível sentir o misto de sensações e quão inovador era tudo aquilo. “Me deparei com dezenas de casos de malária, a qual não existe em nossa região devido a não presença do vetor (mosquito Anopheles), porém, apesar de se ter um tratamento rápido e eficiente, a quantidade de pacientes debilitados e contaminados é extremamente alta, além da gravidade dos casos devido a uma série de somatórios: desde a desnutrição dos enfermos, como ao estado de desidratação”, relata.

“Crianças desnutridas era uma realidade sem tamanho, com IMC bem abaixo do esperado, associado a índices de parasitose elevados e falta de água potável nas malocas de origem. Devido a extração ilegal do garimpo, as águas de muitos rios e afluentes estão contaminadas com os resíduos do mercúrio, o qual muitos destes indivíduos usam esta água para consumo no dia a dia, não se tendo ainda um estudo crítico e amplo para se dimensionar o quanto de contaminação já afetou estas populações que são dependentes destes locais”.

Atendimento na unidade de Surucucu/RR

Segundo Dr Endrew, outro fator importante, mas não de total interferência externa, são os quadros de pneumonia e doença pulmonar obstrutiva crônica. Tanto por falta de medicação, quanto pela falta de suporte local em termos de estrutura para estes enfermos. A cultura indígena está totalmente ligada ao uso de fogueiras para aquecimento dentro das suas malocas, e diante disso, alto índice de fuligem é inalado diariamente por crianças e adultos.

“Além destes atendimentos, fazíamos uma série de briefing diariamente, onde elaboramos fluxos dentro da Casai; conseguimos organizar fixas de pacientes; e junto a equipe local e o coordenador acessível Red, conseguimos dar uma grande vazão e resolutividade de muitos casos. Uma verdadeira ação conjunta. Eu costumo sempre dizer que na vida Deus destina algumas experiências de diferentes formas à todas as pessoas”, disse o médico sergipano.

Dr Endrew faz questão de agradecer a todos que lhe proporcionaram essa experiência magnífica, que certamente fará muita diferença na sua formação como médico humanista. “Inicialmente, quero agradecer a Drª. Renata Dias por ter confiado em meu trabalho e ter feito esta indicação. Posteriormente, a confiança que a FN-SUS me propôs e a todos que me deram apoio com mensagens de orgulho e força. Tive a oportunidade de conhecer e adentrar no dia a dia da Doutora Gabriela Mafra. Médica, brasileira que executa um trabalho magnífico, único, profissional e que merece total reconhecimento por todos. Parabéns! Não apenas a ela, como todos os outros, os quais tive a oportunidade de conhecer e que destinam tempo e cuidado a esta população”, conclui.

 

 

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