Por Shis Vitória/Agência de Notícias Alese*

Literatura de cordel é uma manifestação literária desenvolvida em versos com métrica, rima, caracterizada pela oralidade e linguagem informal. Também chamada de literatura popular em verso essa tradição se popularizou no final do século XIX, quando tais poesias passaram a ser impressas em folhetos e vendidas em feiras. O nome “cordel” faz referência às cordas onde os folhetos ficavam expostos. Seu formato foi inspirado nos cordéis lusitanos, trazidos ao Brasil pelos colonizadores portugueses ganhando força na região Nordeste.

Com o objetivo de estimular, promover e realizar atividades voltadas ao fomento da literatura de cordel ficou instituído a data 19 de julho como ‘Dia Estadual da Literatura de Cordel’ e inserido no Calendário de Eventos de Sergipe baseado na Lei Nº 8.768/2020 de autoria do deputado estadual, Iran Barbosa. O registro homenageia o patrono da primeira Cordelteca do Brasil, o sergipano João Firmino Cabral.

Outra atuação em prol do segmento é o reconhecimento e valorização das atividades de cantador, cordelista e xilogravurista como profissões artísticas por conta da Lei Nº 8.818/2021. O texto estabelece diretrizes para as políticas públicas em Cultura, Turismo e Educação, no âmbito do Estado, para o incentivo da literatura de cordel, da cantoria e da xilogravura. “Cuida de sugerir formas de valorização reconhecendo a importância desses profissionais e a lacuna no que concerne à existência de políticas públicas voltadas para a sua valorização”, esclarece Iran Barbosa em mais uma propositura de sua autoria.

João Emanuel, Alaíde Costa, Eduardo Teles e Salete Nascimento no Encontro Nordestino de Cultura 2022. Foto: Arquivo pessoal

Baseado na perspectiva de fortalecimento da atividade no ambiente escolar, a Lei Nº 8.533/2019 instituiu o ‘Programa de Fomento à Literatura de Cordel nas Escolas’ públicas e privadas no Estado. A deputada estadual Maria Mendonça é autora da ação e na justificativa, diz que é importante preservar e promover a literatura de cordel, uma vez que é muito estigmatizada por conta do linguajar despreocupado e regionalizado, explicou ainda que, na atualidade o cordel é respeitado e no Rio de Janeiro está sediada a Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Ainda segundo a parlamentar, Sergipe tem raízes de sua cultura com influência da literatura de cordel e a escola tem um papel fundamental no que diz respeito ao fomento e promoção da cultura, valorização e auxilia na prevenção e erradicação do preconceito.

Com muita satisfação, o cordelista Eduardo Teles comentou sobre o tema. “Um dia reservado para literatura de cordel oportuniza que as instituições ligadas à cultura possam problematizar, discutir e criar possibilidades para que esse Patrimônio Imaterial continue existindo. Ter o 19 de julho como Dia da Literatura de Cordel em Sergipe deve ensejar principalmente, que os que detém esse bem (os poetas) possam atuar dignamente, aparecendo sem qualquer dificuldade nos espaços culturais, festejos e nas ruas, caracterizando a parte que lhes cabem da identidade sergipana e brasileira. Porém, especificamente como cordelista em Sergipe, penso que a data traz consigo um rememorar daqueles que fazem e fizeram existir essa expressão cultural em nossa região, como o fez de forma brilhante João Firmino Cabral. É também momento de questionamento do nosso próprio percurso poético, de pensar nos nossos versos, nas nossas toadas, nas nossas rimas e nas nossas histórias”, declarou.

O cordelista Chiquinho do Além Mar. Foto: G1 Sergipe

O cordelista Chiquinho do Além Mar destaca o gênero como uma ferramenta pedagógica muito importante, atrelada à cultura popular. “O 19 de julho é uma data muito importante, tanto pelo reconhecimento do gênero e valorização da profissão ao colaborar no fomento de políticas públicas e ações de desenvolvimento da atividade. O cordel foi trazido pelos portugueses e se ramificou no Nordeste brasileiro e hoje é um grande aliado no processo de ensino, sendo uma ferramenta pedagógica riquíssima de aprendizagem. Vale ressaltar que a lei fortalece o cordel perante o poder público e a sociedade, já que a atividade foi marginalizada durante um período e foram os amantes do cordel, educadores e pesquisadores que nunca desistiram dessa linda arte até ela ser consagrada como Patrimônio Cultural e Imaterial do Povo Brasileiro. Vivo do cordel, sou professor especialista e realizo palestras, oficinas, shows e atualmente 23 escolas adotaram meus livros como material paradidáticos”, afirmou.

Utilidade Pública

Através da Lei Nº 6.863/2009 a Associação Estadual dos Cordelistas e Repentistas de Sergipe (ASCORESE) com sede e foro em Aracaju ganhou o título de Utilidade Pública, fruto da iniciativa da ex-deputada estadual, Ana Lúcia.

Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro

No dia 19 de setembro de 2018, a Literatura de Cordel foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Tradicionalmente, o formato de um cordel é um folheto e nele contém versinhos parecidos com poesias. Esses versos contam histórias que podem ser inventadas ou não, uma história de alguém conhecido, fantasia, drama, aventura ou o que o autor quiser criar.

*Com informações de plenarinho.leg.br – Câmara dos Deputados

Foto Capa: Turismo Sergipe

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