Caríssimo Paulo:

Perdoe-me a ousadia da intimidade, mas dado que o tema é urgente e grave resolvi quebrar todos os protocolos (talvez com você o certo seja usar quebrar todos os cânones) para expressar a minha inquietação nesse momento tão delicado do mundo cristão que, de alguma forma, você moldou. Não vou chamá-lo de senhor porque não é necessário dizer-lhe quem é o Senhor. Você o sabe muito melhor que eu, afinal você tenta ensinar o tempo todo, nas treze cartas que você escreveu às mais diversas igrejas, quem é o Senhor. A minha inquietação vem daí. Parece que ninguém aprendeu nada.

O meu questionamento vai até você porque eu não tive, como você teve, uma revelação no caminho de Damasco que lhe deu tantas certezas. Sabe, Paulo, eu tenho inveja de você por isso. Eu sei que inveja não é um sentimento cristão, imagino que as escrituras, sobretudo o Novo Testamento que pode ser chamado também de Testamento do Amor (permita-me essa ousadia) deve ter condenado esse sentimento mesquinho. Mas eu sou mesquinha, pequena, por isso não estou entendendo esse grande mundo cristão. Peço a sua intercessão para entendê-lo. “Como assim? Intercessor é só Jesus Cristo?” “O que faço então para que ele eleve o meu pedido até o Todo Poderoso como está escrito no Evangelho de João, capítulo 14, versículo 13?”

Sabe Paulo, tenho orado com muito fervor ultimamente, mas acredito que as orações não conseguem chegar “lá”. Talvez a minha fé seja de pequeno alcance ou quem sabe as interferências das parafernálias construídas pelos homens de boa vontade de ganhar muito dinheiro e ter muito poder, interceptem essas vontades menores. Elas permanecem vagando no espaço vazio.

Tem o fato também das igrejas, mesmo as que se dizem cristãs terem se dividido. Nem mesmo o Papa, que se diz herdeiro do trono de Pedro teve força suficiente para unir todos os cristãos. O atual tem tentado muito, mas

parece em vão. Os que se dizem ortodoxos (que significa “igreja da opinião correta” ou “igreja da glória verdadeira”) preferiram um líder que não se sentasse no trono de Pedro e cerca de 220 milhões desses cristãos hoje preferem ser guiados pelo líder espiritual Bartolomeu I de Constantinopla. E um príncipe guerreiro de nome Vladimir conduz os seus destinos. Verdades absolutas costumam ser muito perigosas.

Eu sei que você sabe de tudo isso já que você agora se encontra ao lado Dele, não é assim que você ensinou? Mas as pessoas angustiadas costumam ser repetitivas. E eu estou angustiada.

Por favor, do alto da sua glória e com uma experiência tão exitosa em escrever cartas, será que é possível enviar aos homens que se dizem cristãos um pedido de paz na terra? Pode ser apenas um telegrama, se bem que, nas atuais circunstâncias, o mais eficaz seja um telegram.

Todos nós, cristãos ou não, ficaríamos muito agradecidos!

Até a próxima. Acho que voltarei a importuná-lo.

Humildemente,

Esperança

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