Lavoura tradicionalmente temporária em Sergipe, a depender dos períodos de chuva para crescer e dar frutos, o abacaxi ganha um novo campo para seu cultivo e, graças à irrigação pública, pode agora virar uma produção permanente, de várias safras anuais. Lote Irrigado no Perímetro Irrigado Jacarecica II, em Riachuelo, explora esta plantação há cerca de 2 anos e já conquista boa clientela, pela doçura do fruto colhido. As lavouras utilizam métodos agroecológicos de produção e a água de irrigação vem da barragem do Governo do Estado construída no rio Jacarecica. O perímetro administrado pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação (Cohidro), vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Pesca (Seagri), faz o abastecimento em 478 lotes, naquele município e também em Areia Branca e Malhador.
No lote irrigado de Francisco de Araújo, a escolha do que plantar é definida pela demanda dos clientes. O produtor elimina atravessador e vende direto ao consumidor, em sua banca no mercado do Augusto Franco, em Aracaju. Dentre os alimentos que caíram no gosto da freguesia está o abacaxi que ele planta em Riachuelo. “Está tendo muito sucesso aqui, o abacaxi é muito doce, e o freguês que compra um abacaxi na outra semana quer de novo, já vem atrás e, se comprou um, quer dois. Ele atrasa a produção, não é como o pessoal que planta convencional, com produto químico. O dos outros chega mais rápido e o meu demora 2 a 3 meses a mais, porque ele é natural e o abacaxi dos outros não tem o doce igual a ele”, garante o produtor.
O diretor de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola da Cohidro, João Fonseca, estabelece que o agricultor que planta abacaxis do Jacarecica II dá bom exemplo ao perímetro. “O ideal, dentro desse projeto de irrigação administrado pela Cohidro, é ter um produtor que, além de produzir, ele consiga comercializar o seu produto, eliminando o atravessador. Ele tem uma visão ampla de mercado e busca novos produtos que este mercado demanda e ele tenha condição de produzir no projeto de irrigação. Assim, o produtor também consegue comercializar um produto de qualidade, ele planta, colhe e comercializa, então o produto não viaja muito, não demora muito tempo entre a produção e o mercado consumidor. Consumidores que se beneficiam com preço e qualidade do produto”, analisou.
“Se eu vendo o meu produto para outro vendedor, ele vai acrescentar o ganho dele. Então, eu vendo mais em conta. Muitos fregueses ficam perguntando por que tem esse preço barato? Respondo que é porque eu sou produtor, daí eu vendo mais em conta. E o sucesso do meu comércio é esse, eu que planto e vendo mais barato”, explica Francisco de Araújo. O diretor de Irrigação acrescenta a irrigação pública disponível no Jacarecica II e nos outros cinco perímetros da Cohidro, é a possibilidade de fornecer produtos, a um determinado mercado, durante todo ano. “A vantagem da irrigação é que ela garante ao produtor, que ele vai plantar e colher no tempo certo. Facilita a vida do produtor, garante que ele não tenha sustos no percurso do plantio, com relação a chover, não chover ou ter seca”, completa João Fonseca.
O agricultor irrigante tem uma área total de 8,5 hectares no assentamento do Grupo dos 20. Segundo o próprio, a sua produção de abacaxi é inédita no perímetro irrigado. “O abacaxi nessa região a gente nunca tinha visto. Daí um amigo do meu irmão plantava abacaxi em Cumbe e trouxe para cá e a gente plantou”, conta o irrigante do Jacarecica II. Francisco de Araújo está buscando, no Ministério da Agricultura, o seu registro como produtor orgânico e, por enquanto, utiliza produtos alternativos como cinza, leite e manipueira. Todo lote tem quebra-vento para proteger a ‘deriva’ do agrotóxico usado nos lotes dos vizinhos, feito com capim de corte. Como seu abacaxi fica por mais tempo no pé, do que nos plantios convencionais, ele utiliza as folhas de bananeira como alternativa agroecológica para proteger os frutos do calor do sol.