Eis que a prateleira do varejo, aquela onde as marcas competem para estar à altura dos olhos dos consumidores nos supermercados, torna-se um misto entre as redes sociais onde as pessoas sobem ao palco ou descem para o play, tanto faz. Ser visto, desejado, consumido e apreciado é regra para quem faz marketing de serviços e produtos. Love branding é um conceito que estudamos nas escolas de comunicação. Como tornar a sua marca memorável? No fundo, todo mundo quer ser amado, lembrado e cuidado. Sejam coisas ou pessoas. OnLife foi outro estudo que debatemos muito na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) onde não delimitamos a vida real da online. Ambas aconteciam independente de usufruir do espaço físico, pois são as emoções que movem um ser humano, e estas, independem de estarmos em um bate-papo na sala de estar ou virtual.

E da de onde vem este termo ‘instagramável’? Como pesquisadora e eterna aluna de marketing digital me questiono quem faz as regras: as mídias ou a gente? Fui criada no interior. Lá na beira do Velho Chico, em Propriá, a rede social era a calçada. A gente se sentava na beira da porta e o feed de notícias eram os passantes. Coitados! As roupas ou por quem estavam acompanhados eram alguns dos temas de julgamento e observação. Se sorriam ou se passavam tristes, apressados e o porquê, se paravam para uma prosa… Os likes sempre falam mais sobre quem dá o like. A gente só curte, segue e comenta pessoas as quais tenham sinergia com os nossos próprios valores e interesses. Percebe?

Dia desses havia uma declaração de amor instagramável com foto linda de casal em #tbt de viagem. A porta da calçada ferveu. Nos bastidores das colunas sociais a notícia corria: fulano estava publicando aquilo para gerar dor na suposta amante, que lindíssima, havia postado uma foto com seu novo amor. Uau! OnLife: nem tudo que se vê é o que se vê, às vezes é apenas o esforço do que se quer ser. Nas minhas mentorias de marketing eu prego um ser real. Tudo que foge desse tom é maquiagem exagerada. A quantidade de blush (ou filtro de instagram) que se põe, acredite, pode deixar com a mesma caricatura de um palhaço no circo. Como todo mundo no fundo quer ser amado, não significa que precisa ser aceito. Esta é uma fórmula psicológica do fracasso. E ser real está em um ponto muito distante do que é ser instagramável.

Afinal, massa de audiência não é massa de manobra. E não há “nada oculto que não venha a ser revelado!”, love u Jesus. A trilogia do sociólogo polonês, Bauman, causa arrepios na espinha dorsal. Tempos Líquidos, Amor Líquido e Modernidade Líquida são três obras essenciais que descrevem o modelo de consumo no qual, nós, seres racionais, estamos nos inserindo.  Um retrato desta sociedade, cujas relações sociais são instáveis, adaptáveis, descartáveis e efêmeras. Frágil demais para assumir o que sente e arcar com as responsabilidades. Forte demais para mascarar, encenar e viver continuamente dentro de um ciclo de incertezas e infinitos reinícios.

Com um clique se desfaz amizade. Com um bloqueio nunca mais precisarei conversar com essa pessoa que atormenta. Apago essas fotos do meu álbum de instagram e deleto essa relação. Será? A vida dá muitos rolês e cedo ou tarde a gente precisa encarar determinados ‘BO’s’. A atenção plena, uma técnica milenar de mindfulness, uma das matérias que mais curti no curso de Psicologia Positiva, exercita a observação dos ciclos que se repetem. É como aluno que reprova na matéria escolar. Até quando vai ficar nesta repetição de causos? “Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda”, explica Freud.

Como marqueteira convicta preciso informar que ser ‘instagramável’ ou querer vender seu peixe diante de atributos que não sejam reais só expõe a ferida e fracasso. Já viu alguém postando a própria calamidade? As mídias sociais alteram sim o comportamento humano. E isso é grave. Emocionalmente estamos em uma UTI. E não por acaso a outra pandemia que vivemos é da falta de saúde mental. Depressão já é a doença mais incapacitante do mundo e só crescem os afastamentos ao trabalho por este motivo diagnosticado. Negue-se ser objeto de algoritmo de mídia social. Quem curte seus posts não necessariamente está preocupado com seu bem-estar. O que a sua criança interior pede? Atenção que não foi dada na infância? Houve abandono, negligência, abuso? Acesse isso para crescer via terapia. Não há outro meio de cura e tratamento.

Expor o que dói na salinha do teu psicólogo é infinitamente recomendável. Expor sua sombra psicológica e fragilidades tão humanas em holofotes de bilhões de pessoas na internet não irão te fortalecer. Ao contrário, irão viciar. Apenas duas indústrias chamam os clientes de usuários: a internet e o setor de drogas. E eu desenvolvo marketing digital junto aos clientes, preciso dizer isso porque é! Chamar a sua atenção e prendê-la por horas a fio da tua vida, seja por cada notificação nesta máquina maravilhosa e funcional chamada celular, é a meta.

Como estudante de PP (psicologia positiva), trago esta reflexão por compaixão em tudo que temos visto e sentido. Você jamais será amado por aparência, por filtro, pelas relações sociais que desenvolve em seu meio, etc. Instagramável é mais um termo para lhe jogar na vitrine dos desejáveis (viagem do ego). Não seja mais produto de catálogo. Que a gente se empenhe em ser só, e apenas só, o que se é. E isso já dá um trabalhão danado. Acessar o nosso melhor perfume e espalhar por aí o que temos de bom a oferecer. E esta é a minha singela oferta. Minha escrita, a cantoria, uma foto ao luar… Elas podem até durar 24h no status de uma vida cada dia mais líquida. Mas em meu coração preciso me aprovar, me respeitar e sentir conexão com aqueles com quem compartilho meus dias OnLife.