No início da semana que passou o portal de notícias do CINFORM divulgou em primeira mão vídeo de surpreendente flagrante, obtido por moradores da Barra dos coqueiros, em que trabalhadores de empresa de guinchos a serviço do DETRAN jogavam agressivamente ao chão – de cima de um caminhão e provocando danos aos bens manipulados -, motocicletas apreendidas pelo órgão numa propriedade que o Departamento de Trânsito de Sergipe locou para armazenar veículos mantidos sob sua custódia, até que os condutores paguem impostos devidos ou sanem irregularidades.
O vídeo circulou despretensiosamente por uma rede social, o whatsapp, passando quase desapercebido, enquanto o Detran saiu com displicente nota como a justificar o ato, fazendo referência ao fato de que os veículos atingidos já teriam sido apreendidos há muito tempo. e que a operação não teria sido realizada pelo órgão, mas por empresa contratada por aquele departamento.
No decorrer da semana, diante da nota disparatada, o CINFORM decidiu investigar a ocorrência e obter maiores informações do órgão sobre os fatos, tendo em vista o desrespeito e os possíveis prejuízos causados aos cidadãos com veículos apreendidos pelo órgão.
Do diretor jurídico do DETRAN, Aldo Cardoso, o CINFORM recebeu a explicação de que a atividade teria sido desenvolvida pela Barrados & Queiroz Guarda e Transporte de Veículos e Gerenciamento de Pátios e Leilões, sediada em São José do Rio Preto – SP, com a informação complementar de que não existe compromisso do departamento com a empresa, que teria sido contratada apenas para “realizar um rápido serviço” de transporte de alguns veículos que estavam custodiados, objetivando a limpeza do pátio do Detran.
VEJA O VÍDEO DO FLAGRANTE
Pelo que o leitor perceberá ao acessar o vídeo do flagrante aqui no Portal de Notícias do CINFORM, da forma como foi efetuado o serviço, de fato, ele só poderia mesmo ter sido realizado com a “rapidez” relatada.
Aldo Cardoso afirma que apesar de no local do flagrante só estarem armazenados veículos que seriam leiloados como sucata, o DETRAN verificará se há algum bem que gere indenização para que seja instaurado procedimento visando apurar a responsabilidade sobre os fatos”.
No entanto, a reportagem do CINFORM esteve no local e entrou no terreno locado pelo DETRAN e pode constatar que há controvérsias em relação a declaração do diretor do órgão, de que os veículos ali armazenados seriam todos sucateados. É que é peRfeitamente visível que nem todos os veículos que aparecem no vídeo sendo empilhados após serem atirados de um guincho estariam em completo estado de deterioração.
IMAGENS CHOCAM
Aldo Cardoso reconhece que as imagens contidas no vídeo chocam e causam perplexidade por parte de quem o assiste, mas acrescenta que o Detran não orienta esse tipo de prática. “Se as pessoas continuam reclamando, vamos discutir as provas. Não culpamos a empresa que foi contratada para fazer o serviço, mas também não temos compromisso com essa firma, além do que o elemento humano tem atitudes próprias”, completou
Ao entrar no pátio utilizado pelo Detran na Barra dos Coqueiros, a primeira impressão que se tem é a de se estar num cemitério de veículos mas muitos dos quais, na verdade, ainda poderiam transitar sem maiores problemas servindo aos seus proprietários.
Há veículos de diversas marcas, incluindo motos e motonetas. Logo na entrada ficam algumas motocicletas, arrumadas lado a lado, muitas delas já enferrujadas por ficarem expostas ao sol e a chuva. Outras apresentam sinais de deterioração gradativa e, mais adiante, há o empilhamento do que mais parece um cemitério de veículos.
Nesse ponto, a equipe de reportagem identificou as motos lançadas pelo guincho. Há muitas que aparentam não serem tão velhas, que apresentam partes amassadas na lataria, provavelmente pelas quedas sofridas no processo observado no vídeo
LICITAÇÃO E LOCAÇÃO DO TERRENO
Outra questão no ar diz respeito a propriedade do terreno que foi locado pelo DETRAN na Barra. Moradores da região e alguns comerciantes afirmam que a área pertence ao pai do vice-prefeito da Barra dos Coqueiros, Alysson Souza Santos (PSD), conhecido como seu Joacir.
Não há confirmação ainda de que a escolha do terreno para abrigar o pátio tenha passado por um processo licitatório regular, como exige a lei 8.666, a das Licitações. A reportagem do CINFORM tentou obter a informação junto ao órgão e questionou a assessoria de comunicação sobre a procedência do terreno, mas não obteve resposta. A equipe foi instruída a manter contato com Luana Ludovice, que não atendeu nem retornou as ligações efetuadas pelo jornal.
Aldo enfatiza que a situação coloca o nome do Detran num processo vexatório, mas acrescenta que “a responsabilidade pelos veículos novos que estão sendo apreendidos será da empresa que venceu o processo licitatório realizado. Há veículos considerados inaptos e estes não poderão retornar à circulação. O veículo pode ser zerado, mas se sofreu grave acidente não pode mais circular pelas vias de trânsito”, concluiu.
MENTIRAS E VERDADES
“Eles mentem quando afirmam que todos os veículos estão destruídos. A verdade é que eles destroem os bens das pessoas. Eu sou taxista e tenho muito medo de que um dia meu carro vá para esses pátios e seja dilacerado da forma que eles agiram com os de outras pessoas”, observa Magno Eder Costa. Ele afirma que o vídeo é verdadeiro e muito claro, além de assegurar que muitas pessoas reclamam diariamente de passar pela situação desagradável de ver seus veículos destruídos nos pátios do DETRAN.
“Eles jogam, empilham e não se importam em destruir o que é dos outros, afinal os custos não saem dos bolsos deles”, dispara o taxista. Outro motorista que estava ao lado de Magno, no entanto, não quis se identificar, afirma também que o carro de um amigo foi levado ao pátio da Barra e lá foi destruído, tendo saído do local com falta de peças, profundos arranhões e com a lataria amassada. “Eles não se importam com os veículos das pessoas, jogam de qualquer jeito e não assumem nenhuma responsabilidade na entrega”, denuncia o taxista, afirmando que não adianta reclamar porque as pessoas escutam no pátio a expressão: vá reclamar com o DETRAN”.
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