ex-ministro Antonio Palocci disse, em depoimento ao juiz Sérgio Moro nesta quarta-feira (6), que o Instituto Lula recebeu R$ 4 milhões da Odebrecht e que havia uma espécie de “pacto de sangue” entre o PT e a empreiteira, que previa o pagamento de R$ 300 milhões ao partido. Segundo os advogados, Palocci disse que os R$ 4 milhões foram dados em espécie.
Palocci também afirmou a Moro, segundo os defensores, que Lula sabia da compra de um terreno para o Instituto Lula e de um imóvel vizinho ao apartamento do ex-presidente, em São Bernardo do Campo.
O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, negou que o ex-presidente tenha recebido propina. “Não há vantagem indevida, não há qualquer relação com contratos firmados com a Petrobras. A denúncia é uma pura ficção, e os depoimentos prestados hoje não contribuem para nada. São depoimentos que não acrescentam nada, até porque sem qualquer prova”.
Ainda conforme o advogado, Lula esteve no terreno uma vez e descartou qualquer interesse. “Na verdade, a diretoria do Instituto Lula verificou que ele não era apropriado para a destinação que se buscava. Então, está muito claro e isso, evidentemente, é a verdade e é o que vai também ser esclarecido pelo ex-presidente Lula”.
De acordo com os advogados de Palocci, uma das vantagens oferecidas pela Odebrecht para manter o bom relacionamento com o governo da presidente Dilma Rousseff, era a manutenção de uma conta no valor de R$ 300 milhões.
Segundo eles, esse dinheiro poderia ser usado tanto para gastos partidários, quanto para assuntos pessoais do grupo envolvido nas negociações. Conforme a defesa de Palocci, desse montante, pelo menos R$ 4 milhões foram sacados pelo ex-presidente Lula.
“A destinação dos recursos era determinada a partir da cúpula do PT, seja pelo presidente Lula, Paulo Okamotto ou Antonio Palocci. Aí, foram destinados R$ 4 milhões do ex-presidente, questões pessoais de Antonio Palocci. Por exemplo, R$ 4 milhões em espécie que foram retirados para pagamento de gastos do Instituto Lula. Então, isso foi um favorecimento pessoal. Mas também, essa conta foi usada para o pagamento de campanha, seja por caixa dois, seja por caixa oficial”, disse o advogado André Pontarolli na saída da Justiça Federal, onde Palocci prestou depoimento a Moro.
Questionado por Moro sobre se a relação entre Marcelo Odebrecht e Lula era boa, Palocci respondeu que era “normal, mas pouco frequente”. O juiz questionou ainda por que a empreiteira estaria envolvida na compra de um imóvel para o Instituto Lula.
Palocci respondeu: “Porque dr. Bumlai e dr. Roberto Teixeira sabiam que a Odebrecht era uma colaboradora… Colaboradora talvez seja uma palavra.. o senhor desculpa, às vezes eu sou 30 anos treinado pra falar dessa forma, mas que a Odebrecht dava propinas frequentes ao presidente Lula e ao PT, como se tratava de o pagamento de uma propina, ela achou que a Odebrecht deveria pagar este terreno. Imagino que seja isso porque o Bumlai foi falar comigo, não foi pra me convidar pra visitar o prédio. Foi pra pedir pra eu pedir o dinheiro pro Marcelo Odebrecht. Que ele sabia que eu conversava com o Marcelo Odebrecht sobre essas coisas.
Instituto
“Especificamente no que tange o assunto do Instituto Lula, que é o objeto dessa denúncia, ficou absolutamente claro que esse assunto foi deliberado conjuntamente por um colegiado de pessoas composto por Paulo Okamotto, José Carlos Bumlai, Roberto Teixeira, o próprio Antonio Palocci, que não nega o seu mea culpa, não se exime da sua responsabilidade”, disse Adriano Bretas, outro advogado do ex-ministro.
“Mas que também admite e reconhece que integrava esse colegiado também o ex-presidente Lula, que participou e acompanhou, par e passo, cada passo do andamento dessa operação, que culminou pela compra desse imóvel”, completou Bretas.
Segundo denúncia do Ministério Público Federal (MPF), Lula recebeu o terreno e o imóvel como vantagem indevida da Odebrecht.
Neste processo, Palocci responde pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele já foi condenado em outra ação da Lava Jato e está preso na Superintendência da Polícia Federal (PF) na capital paranaense.
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