Não me procure, eu estou perdida no labirinto da vida. Você não vai me achar. Eu mesma tenho tentado saber onde me encontro e não consigo. Sabe aquele caminho que parecia tão certo? Pois é, não deu em lugar algum, pois quanto mais eu avançava nele mais as possibilidades se confundiam e me levavam a lugares inimagináveis e quando neles me encontrava perdia-me de mim mesma outra vez. Encontro-me assim por veredas que se multiplicam e se sucedem, mas não encontro a saída. Ademais, não sei se existe saída. Será? Se ela existe, diga-me por favor, ela está em frente, à esquerda, à direita a apenas um ângulo de quarenta graus de onde me encontro, ou será que devo avançar um pouco mais? Devo retroceder a sessenta graus, para avançar depois em grande velocidade, ou seria o caso de “rallentare”, como numa composição musical? Eu sei que você vai me dizer para seguir em frente, é isso que todos dizem, mas aonde é a frente? Ela existe ou a nossa vida se desenrola em círculos, em labirintos? Pensando bem, eu não gosto de caminho reto, ele me faz enrijecer, perder a noção de conjunto, do entorno que me envolve e que me possibilita saber aonde estou.

Não me procure, você não vai me achar. Estou perdida no labirinto dos meus sonhos, que são tantos e essa mania de sonhar acaba por me afastar da realidade com a qual os não-sonhadores, os que acreditam que isso aqui é um vale de lágrimas, lidam tão bem. Mas eu preciso acreditar numa terra onde os homens possam conviver em harmonia e, de mãos dadas com a natureza, habitar um mundo de paz. Preciso acreditar em duendes, fadas, seres diáfanos que dão leveza à vida. Por que não pode ser assim? Eu sei que você vai dizer que isso é fraqueza, que não há lugar para sonhos pueris, e que a vida é para os fortes, para os que a encaram sem medos.

Por isso não me procure, você não vai me encontrar. Estou perdida no labirinto dos meus medos, que se mantiveram presos naquele armário durante tanto tempo mas que agora arranham as portas, empurram-nas e teimam em sair. E eles saem, percorrem a minha casa, enchem o meu quarto, deitam-se em minha cama e insistem em dividir os meus lençóis. Crescem como se tivessem vida, e se multiplicam como se parissem mais e mais acrescentando medos novos aos já existentes. O tempo dos sonhos deu lugar à semeadura dos medos, e esse é o motivo pelo qual eu me exilei nesse labirinto que busquei como proteção e que agora me esconde.

Por isso não me procure, você não vai me achar. Estou perdida ainda mais no labirinto das informações que são jogadas a cada segundo como mísseis incontroláveis vindas de todas as direções. E me atingem como se eu estivesse num campo de batalha onde não há trégua, porque qualquer descuido pode reforçar o inimigo que não sei exatamente onde se encontra nem porque me ataca com tanta voracidade. Sim, estou ouvindo você me dizer baixinho: desligue-se de tudo isso se quiser manter a sua sanidade. Foi isso que eu fiz, mas quem está perdido não consegue ver as coisas à sua volta com clareza, fica obnubilado, incapaz de decidir nesse teste de múltipla escolha. Na vida não vale “uni, duni, tê, um sorvete colorê…” só na brincadeira.

Por todas essas razões, não me procure, você não vai me achar. Estou perdida no labirinto de mim mesma, ser complexo que sou. Mas não se preocupe, no exílio em que me encontro escolhi um cantinho nesse labirinto e aqui estou. Como você sabe, os labirintos não têm teto e daqui posso avistar um céu profundamente azul, com nuvens esparsas, que caminham pelo firmamento em alguma direção mostrando pra mim que em algum momento tudo vai passar. À noite ele fica estrelado e posso ver em cada estrela aqueles que eu amo e eles piscam pra mim amenizando a minha solidão. Sabe? Em noite de lua cheia tudo fica bem bonito e quase marco um encontro comigo mesma, mas ele se mostra fugidio, pois logo amanhece e o labirinto à minha volta me abraça. Enquanto me abraço a ele pra me aquecer um pouco aguardo que Ariadne me envie o novelo de linha que me ajude a sair, como no mito grego do Labirinto.

Mas, por enquanto, não me procure. Você não vai me achar!

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