Em uma recente conversa com um ex-militar, ele me dizia: “vocês, mulheres, me parecem mais evoluídas, pois aprenderam a amar incondicionalmente.” A fala dele não estava sem associações práticas e racionais. Logo, testemunhou-me que as filas dos presídios estavam lotadas por mães abnegadas. Aquelas que, independente das condições, eram capazes de amar os que trouxeram em seus ventres.

 

A mulher, em si, é uma preceptora. Maria de Nazaré iniciou na Terra há mais de dois mil anos o maior vulto da cristandade, onde muitos dos nossos valores – masculinos e femininos – estão fundamentados. De bruxas queimadas até o direito ao voto muitas lutas foram travadas, todas do campo ético, político e cultural. De Maria Madalena, a discípula mais próxima ao Mestre, até a uma executiva dos dias atuais, o ‘desconfiômetro’ permanece em alerta. Afinal, o que credita uma mulher?

 

A perenidade pela vida. Sem úteros teríamos uma extinção da humanidade. Mas não apenas o órgão de reprodução – e dependência da espécie – nos caracteriza. Convido você a pensar sobre o feminino, atributo que existe em homens e mulheres. O feminino é a lua com suas fases gestacionais. É a proteção, o cuidado, a intuição, a sensibilidade, a influência sobre marés e no cérebro reptiliano que todos nós temos, pois é o instinto, o subconsciente, a leitura sensorial dos sentidos. É a própria ancestralidade se comunicando com nosso eu interior e superior. O feminino é sagrado e a mulher é a guardiã desse templo místico e sem respostas pragmáticas, apenas sensitivas. Toda mãe saberá do que falo: basta olhar, basta sentir o cheiro…

 

Fomos imersos em um campo de produtividade na industrialização, mas não somos máquinas previsíveis. Na verdade, somos bem complexos e tampouco nos conhecemos além do que a ciência focada em exatas nos trouxe através da medicina. Eis um vírus invisível, viajante, mutável, que já matou milhões e após um ano de convivência com ele, temos poucas evidências de como solucionar. A casa, o lar, ‘o útero’ é possivelmente o único local que nos resguarda dos perigos. Estamos todos convidados para um banquete de desenvolvimento do feminino que habita em nós. Quais os ingredientes deste banquete? Ponha uma xícara de tolerância com mais um copo de paciência, unte/sele com paz, polvilhe com o tempo por toda a forma e ponha no forno aquecido de amor.

 

Nesta receita há um ingrediente fundamental: o perdão. Tal qual um fermento, deixe ele agir, crescer em compaixão. A mãe, quando vê a criança aflita no berço, sabe que ali é apenas um ser inofensivo, chutando com os pés aquilo que não consegue ainda comunicar. O perdão é assim, sabe que talvez o outro não tenha maturidade emocional e social para lidar com determinadas situações. Perdoa-se pelo ato de se libertar. Perdoa-se por amar a si próprio. Perdoa-se porque uma alma com leveza não se amarra aos sofrimentos alheios ou aos próprios. Perdoa-se porque talvez a falta do outro(a) pese mais que a falta do perdão. Jesus disse para perdoar 70 x 7. Muito coerente, visto que nesta geração perversa e egoísta, se não perdoarmos, vamos adoecer e regredir. O perdão não é algo que se dê a alguém, dá para si mesmo. E a injustiça e a impunidade? Por acaso alguém lhe nomeou por justiceiro? O concurso da vida irá lhe responder, e não por vingança ou retaliação, mas porque tudo que emitimos é um eco: retorna. Seja responsável por você, pelo seu bem-estar.

 

O perdão é, em essência, feminino. Ao longo da história as mulheres foram elementos de posse, tanto quanto os animais e patrimônios. Mas agora somos donas das nossas cabeças, estamos alforriadas, formadas, letradas, e quiçá, mais humanizadas. Não concorremos com ninguém, a não ser com nossos próprios medos, angústias existenciais, com pensamentos sabotadores herdados por uma cultura extremamente machista. Temos paciência, mas não para guerrilhar. É que todo tipo de violência já nos foi dado como prova. Abandonos, rejeições, acusações, inclusive de outras mulheres. Porque estamos refletindo hoje sobre o desenvolvimento do feminino, que é um movimento evolutivo muito mais espiritual e de consciência coletiva. O feminino é como aquela ‘vó’ que lhe faz bolo de fubá com café no meio da tarde chuvosa, lhe serve, faz companhia, conta piada, lê poesia e tem um aroma de rosas no ar. Ela não espera nada em troca, mas ama te fazer o bem.

 

O masculino, aquela força do impulso, da caça, da energia solar, é profundamente vital. Mas sozinho, não germina. Voltemos todas as casas do jogo. A perseguição e diminuição do feminino definitivamente acabou. Como você acha que os livros de história irão descrever a pandemia do coronavírus? Uma guerra travada nos leitos de hospitais e nos cárceres de mentes e casas? A rua virou campo de batalha onde não podem ter soldados?

 

Não tenho respostas objetivas e nunca as terei. Mas trago muitas perguntas e uma convicção: se não aumentarmos o nosso percentual de desenvolvimento feminino, de nutrir, perdoar, amar sem condições e meditar, orar, seja lá como você pode encontrar sua paz, provavelmente continuaremos a lutar contra um inimigo invisível. E olha que nem me refiro ao vírus. Seria o desconhecido em nós, aquilo que é sombra e com boa vontade, pode se tornar luz. Qual dom feminino você pode descobrir/servir/evoluir e tornar mais harmônica, protetora e prazerosa as suas relações? Não precisamos mais queimar sutiãs. Não precisamos mais fazer valer a nossa voz, ela já se torna presença e calor em cada lar onde exista solidão. Um brinde ao feminino sagrado que evolui em todos nós nesses tempos de recolhimento, de volta ao útero.

 

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

  • Hemose realiza homenagens para Dia Nacional do Doador de Sangue

    Nesta segunda-feira, 25, será comemorado o Dia Nacional do Doador [...]

  • Anvisa atualiza composição de vacinas contra covid-19

    A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou  a atualização [...]

  • Sergipe alcança a menor taxa de desemprego da história

    A informação foi confirmada pelos dados da Pesquisa Nacional por [...]

  • Taxa de desemprego das mulheres foi 45,3% maior que dos homens

    A taxa de desemprego entre as mulheres ficou em 7,7% [...]

  • Setor aéreo registra o melhor outubro da história com cerca de 8,3 milhões de passageiros

    O setor aéreo brasileiro registrou o melhor mês de outubro [...]