Entre as décadas de 50 e 70 do século passado, com o auge da industrialização do Brasil, a migração nordestina para o sudeste, em especial para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro foi intensa, tornando as capitais destes estados grandes polos de atração para essas populações. É dessa época a frase escrita em um caminhão, veículo emblemático dessas migrações, que expressava o mote de profunda sabedoria “Levo os desiludidos e trago os desencantados” que ilustra o vai e vem do homem em busca de um mundo melhor, menos árido, mais benfazejo.
Desilusão é o sentimento de tristeza, de frustração, decepção, desapontamento. É a perda da esperança, da alegria, sensações experimentadas sobretudo pelos mais jovens ao contemplar o futuro, a partir de realidades tão sombrias. Sensações de quem imagina que além do horizonte deve ter um lugar pra se viver com o fruto do seu trabalho e que esse fruto, além de matar a sua fome há de ser saboroso. Desencanto, segundo o sociólogo alemão do final do século XIX e início do século XX Max Weber, é a desmagificação da realidade que ocorre quando você descobre o que estava escondido e portanto quebra o encanto daquilo que você não conhecia e, por não conhecer, considerava mágico. É descobrir que a terra prometida não jorra leite e mel mas é construída com as pedras que você tem que carregar, pedras essas que ferem o seu corpo, envergam a sua dignidade, embotam a sua visão, gerando uma neblina de silêncio camuflando as suas emoções. E um belo dia você descobre que é hora de fazer o eterno retorno. Desencantado.
A obra “Universo em Desencanto” produzida na década de 30 do século passado defende que “é preciso que o vivente seja um fervoroso divulgador do que conhece, para saber se salvar e salvar o próximo”. É a defesa do conhecimento como uma forma de ver o mundo para além das coisas mágicas, daquilo que está encoberto pela ignorância que insistimos em alimentar. Não dá para viver sempre em busca do mundo encantado, tentando desvendar um mistério, ansiando por uma solução sagrada, querendo um demiurgo aos pés do qual depositaremos todas as nossas esperanças. Estamos vivendo a era do conhecimento. Nunca na história da
humanidade o conhecimento esteve tão disponível para tantas pessoas, em tempo real, ali, ao alcance de qualquer um, sem mediações, sem reserva de mercado, sem a sacralização do saber tão ferreamente defendida durante toda a Idade Média e de certa forma mantido a sete chaves em cofres depositados em lugares específicos até o advento da informática.
É preciso que cada um de nós como um ser vivente dessa época da informação, transitemos para além da desilusão e do desencantamento e nos tornemos fervorosamente (com o fervor da sua religião, se for o caso) um divulgador do conhecimento para que possamos , em época tão difícil como a que estamos atravessando, nos salvar e salvar o próximo. A humanidade que habita em cada um de nós agradece e quem sabe o Universo conspire em nosso favor, com fervor!