As preocupações do dia a dia, as contas a pagar, a receber, os compromissos e contratos firmados, tudo isso, consome tempo, energia, vida. Chico Xavier dizia que era uma bênção a transitoriedade do corpo. Passou dos 30 anos e todos sabemos do que estamos falando. Há sinais no corpo, cansaço na alma, mas o que nunca pode faltar é a esperança no coração. Sem ela, deprimimos. A transitoriedade é o atestado de mudança. Só não muda aquilo que já está morto. Aqui e acolá teremos que enfrentar despedidas. De entes queridos. De empregos ou trabalhos que já não nos cabem mais. De pessoas que ora passam como cometas e ora são estrelas em nosso céu. Inclusive nos despedimos até de nós próprios. Dos comportamentos que nos livramos. De péssimos hábitos. De status quo que já não nos definem. Não adianta lutar, onde pulsar vida, esperança, há convite evolutivo. E quando pensarmos que chegamos ao auge de alguma situação, mal se espera para abrir um novo capítulo.
O medo da mudança paralisa, mas uma vez dentro dela, descobre-se que “o fardo é proporcional às forças”, diria Allan Kardec. Deixe morrer tudo aquilo que você não deseja mais em seu viver. No ‘Dilema do Porco Espinho’, livro do professor Leandro Karnal inspirado pelo contraditório filósofo Arthur Schopenhauer, compreendemos a dualidade de tantos mamíferos. No inverno, o porco espinho vai para a toca se agrupar com a sua comunidade. Por necessidade, se aproximam tanto e tanto que acabam se ferindo. Na solidão desejamos o calor humano de gente querida. Mas a aproximação pode nos ferir. E como saber o distanciamento saudável? Somos seres completamente diferentes, com ritmos e às vezes perspectivas distintas de utilizar o próprio tempo.
“O respeito antecede ao amor”, um dos meus textos preferidos, mede esse termômetro das relações. Sem respeito não há base para se construir nada. Não há espaço para convivência, para cuidarmos uns dos outros. Porque, honestamente, se até um animal irracional que se utiliza de espinhos para autodefesa, necessita de círculo social para se aquecer, quanto mais nós. Há significado e propósito até na biologia. Por isso que o credo, a crença que alimentamos por alguma divindade e inteligência suprema, além dos nossos ínfimos poucos percentuais de consciência, nos protege. De quem? De nós mesmos.
Uma criatura muito reativa às intempéries dos acontecimentos do cotidiano pode ter tido uma infância difícil, ter sofrido agressões, abandono, ter sido taxada(o), rotulada (o), dentre outros males. E mesmo diante de calamidades que aconteçam no trabalho, na família, onde quer que seja, nossa obrigação é sempre com o estado de espírito que vamos atuar. Ou seja: com nós mesmos. No budismo aprende-se que o inferno não está nos outros. Está dentro daquele que entra em sintonia e se faz espelho. No espiritismo entende-se que amor e ódio estão na mesma linha, um em cada pólo. Enquanto se alimenta um sentimento ou o outro, há laços fortes. E o que liberta? Somente o perdão.
Fácil? Não é. Somos pessoas com memória ram, rom, cache que precisa de limpeza e ainda recebemos cookies (palpites) alheios. A transitoriedade do corpo ensina também que tudo passa. Até o nosso próprio corpo passa. A juventude, os gostos, aquilo que nos encanta. A base da percepção é a projeção. Só enxergamos o mundo à nossa volta conforme nossas próprias lentes, do jeito que eu sou. Se colocar no lugar do outro e se permitir raciocinar com a mentalidade dos outros é um bom exercício de abertura de consciência. Aprendemos, erramos, caímos muitas vezes e voltaremos a nos levantar.
Enquanto o perfume ainda se encontra neste vaso (corpo), tratemos de nos empenhar a sermos o melhor tipo de gente que poderia habitar esta terra de tantos porcos e infinitos espinhos. Que a curta temporada que esta vida nos reserva seja memorável pelo poder do que temos a compartilhar. Há dias que recebo um café quentinho em alguma reunião e sei que é o melhor que a pessoa está fazendo naquele momento para eu me sentir acolhida. Tem noites que falo por horas com minha mãe que vive em outra cidade e isso ameniza a minha saudade, mas sei que quando morávamos na mesma toca tínhamos nossas diferenças. Tem dias que recebo o melhor bom dia com Deus te proteja pelo whatsApp. E há poucos instantes que jamais esqueceremos por muitas e muitas vidas. O nosso esforço é em multiplicar esses instantes que somos nós. Seja um você um cometa que passe ou uma estrela que fica, doe a sua melhor energia, aqui e agora.

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