Por Eduardo Laguna

Causou indignação na indústria de transformação a entrevista dada pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos von Doellinger, ao Valor Econômico em que o economista defende a desindustrialização do Brasil ao sustentar que atividades de manufatura, com exceção do beneficiamento de recursos naturais, não são o melhor caminho para o País.

As declarações foram mal recebidas em grupos organizados que reúnem representantes de setores industriais, com alguns deles já defendendo, embora sem ainda mobilizar a maioria, que uma resposta institucional seja endereçada a Brasília.

Em geral, o comentário de Doellinger foi lido como uma opinião particular – dissociada do discurso de reindustrialização manifestado a empresários pelo comando da equipe econômica -, mas que não pode ser menosprezado por vir de um órgão com grande influência na formulação de políticas públicas.

“Estamos assistindo a uma discussão estéril que despreza um ativo valioso do País. É como se os industriais fossem um bando de idiotas que dependem de subsídio para sobreviver”, comenta Fernando Pimentel, presidente da Abit, entidade que representa a indústria têxtil nacional.

“Eu sou fã da agropecuária e tenho orgulho da posição do Brasil no mercado internacional de commodities agrícolas, mas o setor agrícola não será sozinho capaz de tracionar a economia brasileira”, acrescenta o executivo.

Na entrevista publicada na terça-feira pelo Valor, Doellinger defendeu que o Brasil priorize setores onde tem vantagens comparativas – casos de agronegócio, mineração e energia – e citou a Austrália como exemplo, por o país ter decidido há mais ou menos 15 anos acabar com a indústria de transformação para dar foco a sua vocação na produção de minérios e agropecuária, tornando-se também uma potência em serviços e tecnologia.

“Se isso fosse uma verdade, Japão e Coreia do Sul, que são países industrializados, não seriam economias desenvolvidas”, rebate José Velloso, presidente da Abimaq, associação da indústria de máquinas e equipamentos.

Segundo Velloso, reduzir a indústria a setores em que há vantagem comparativa por abundância de recursos naturais, como sugeriu o presidente do Ipea, significaria desmontar parques de capital intensivo num País que investe pouco. “Se a gente fizer um estudo de impacto disso, certamente o saldo será negativo”, afirma.

Para Pimentel, a sugestão de Doellinger remete à criticada política de “campeões nacionais” de governos petistas, na qual empresas eram selecionadas para competir no mercado internacional por meio de financiamento público. A diferença é que agora a abordagem seria setorial.

“É mais ou menos a mesma coisa quando o governo define os setores que devem ou não ser protagonistas da área industrial”, assinala o presidente da Abit.

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