Ame sem impor condições, sem ter, sem possuir, simplesmente ame. Neste exercício total de desapego que 2020 nos ensina, o amor, conforme aborda Osho, “não é um relacionamento. É um estado de ser.” E foi, e é através de telas, que as conexões sociais se estabeleceram, porque um homem é um ser com necessidades básicas de socialização. Sem esta troca estaríamos fadados a um precipício da estagnação.

Porque é nos desafios das relações que crescemos, quebramos pontos de inflexão, atribuímos novos valores, construímos continuamente uma nova versão – mais aprimorada – de nós mesmos. E fomos convidados a voltar para casa. Retornamos ao nosso lar que repentinamente se tornou escola, escritório, academia, cinema, bar, cafeteria, etc. Nos voltamos também para dentro. O recado foi dado: volte uma casa neste jogo e avalie toda a sua vida, sua trajetória, seus laços. Um ano para entendermos qual é a fonte que nos dá sentido à vida.

Fiz uma pesquisa pelas minhas redes sociais e convidei as pessoas a citarem os fatos positivos que aconteceram com elas em 2020. O jeito de viver ou encarar a vida profissional teve bastante destaque. Marcos Raso, um executivo de TI que estudou comigo na ESPM, me contou: “consegui relaxar e não mais me estressar com o trabalho. Agora o trabalho trabalha para mim”, relatou em meio às suas fornadas da Raso Gourmet, uma terapia que lhe rende prazer pelas receitas maravilhosas, além de garantir pães frescos na mesa de gente que aprecia o sabor artesanal.

Outros amigos me disseram que conseguiram emprego justamente por ser no modelo home office, que se adéqua totalmente às suas realidades, bem como diversos entrevistados ressaltaram o valor inestimável de passar mais tempo com quem se ama, podendo conciliar a execução de seus serviços. A jornalista Paula Toquinho me revelou que conseguiu morar durante dois meses no interior da Bahia junto aos seus familiares, fato que não ocorria há 20 anos.

A chef de cozinha, Rose Munhos, também foi passar uma temporada perto dos seus amados, nos Estados Unidos. “Após dois anos e três meses sem ver filhos e netos, vim visitá-los. Um ano de tantas incertezas, mas também de muitas alegrias!”

Teve gente nascendo e também, renascendo, como a cura do câncer da psicóloga Cristiane Figueiredo, que se dedicou plenamente à sua saúde. Aliás, com uma crise de saúde em moldes pandêmicos, muita gente se descobriu doente: seja emocionalmente ou fisicamente. O quanto temos dedicado o nosso tempo a nos cuidar, de fato? A praia se tornou refúgio para caminhadas, mergulhos e para respirar ar puro. Novas rotinas de prioridade foram estabelecidas, a começar pelo autocuidado, ao olhar de amor-próprio que precisamos desenvolver.

“Aprendi a me colocar como prioridade. A dividir a hora de trabalhar, a hora de cuidar do outro e a hora de cuidar de mim”, escreveu em depoimento, a gestora de RH, Rosane Lobão. O psicoterapeuta Prem Nistal, Cláudio Makoto, trouxe um olhar transcendente a partir da sua análise individual. “Foi o ano em que ‘sentei’ e cuidei de mim. Ano que aprendi que é possível uma transformação planetária sem uma ruptura estrutural”, relatou.

Recebi inúmeros relatos de viagens para dentro, de descoberta de propósito, de motivos para voltar para a faculdade e se dedicar ao que sempre quis, enfim. Sinto que 2020 tem o mesmo efeito de resetar um computador porque o sistema operacional estava ‘bugado’. Agora mesmo imagino Deus apertando o botão de reiniciar, de recomeçar, nos dando uma nova oportunidade para entrar nesta era que muitos astrólogos chamam de Era de Aquário. Para quem não sabe, aquário é um signo do elemento ar, livre, comanda as mudanças, as grandes transformações, rege a tecnologia, os avanços científicos e também humanitários.

O crescimento é coletivo, assim como a pandemia do coronavírus não distinguiu raça, país e classe social. O presente é para todos e só será viável o projeto humanidade com o despertar e avanço de todos. Na saúde e na doença. Na alegria e na tristeza. Na riqueza e na pobreza. Amando-nos, respeitando-nos e sendo fiel a quem somos, todos os dias das nossas vidas. Até que a morte (de quem imaginávamos ser) nos separe das ilusões do ego, do orgulho e da vaidade. E surja em nós uma só comunhão: a do amor universal. Parece utópico, mas é o nosso único caminho e 2020 trouxe esse senso de trabalho coletivo em prol de um só objetivo: nos curar em todos os níveis que pudermos alcançar.

 

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