Tototós resistem ao tempo e fazem parte do cenário de Aracaju

Quem trafega pela Avenida Ivo do Prado, mais conhecida como “Rua da Frente”, no centro de Aracaju pode ver diversos imóveis e praças que contam histórias dos 164 anos da capital sergipana. Porém, um pequeno píer no rio Sergipe, localizado nas proximidades do  Mercado Municipal Antônio Franco, abriga um dos patrimônios culturais do estado.

O som da buzina alerta os passageiros mais lentos sobre a próxima viagem das pequenas embarcações que ganharam o nome do barulho que seu motor faz: Tototó. Segundo a presidente da associação, Mary Almeida, são 16 embarcações que se revezam diariamente no transporte dos passageiros entre as cidades, das 5h45 às 19h, de domingo a domingo. Homens, mulheres, idosos, crianças que viajam através do rio mais conhecido da cidade em uma calma e bela viagem de apenas cinco minutos.

Datar a primeira embarcação motorizada desse tipo que cruzou o Rio Sergipe é uma tarefa difícil até mesmo para os historiadores locais, no entanto, existem embarcações datadas da década de 1940 que substituíram as antigas embarcações à vela.

MUDANÇAS

Ao longo de, pelo menos, sete décadas de travessias muita coisa mudou para os pilotos de tototós. O historiador Marcos Vinicius Anjos lembra que na década de 1980, essas pequenas embarcações disputavam passageiros com lanchas maiores, mais rápidas e com possiblidade de um número maior de ocupantes. Mas, mesmo com a concorrência das lanchas da Sergiportos, os tototós ainda continuavam a transportar pessoas.

“Como a oportunidades de empregabilidade era maior no comércio e serviços em Aracaju, era comum um número expressivo de canoas atravessando o rio Sergipe, trazendo e levando trabalhadores. Assim, essas canoas viraram marca registrada não somente dos moradores da ilha, como de pessoas que estavam em Aracaju e queriam ir para a Barra dos Coqueiros ou nos fins de semana para a frequentadíssima praia da Atalaia Nova”, comenta.

Outro impacto que os pilotos de tototós sofreram foi a construção da ponte Aracaju-Barra dos Coqueiros, inaugurada em 2006. Mas com um preço mais em conta (R$ 2 por pessoa), um tempo de travessia menor, mais conforto e segurança – sem falar na vista – fazem com que muitas pessoas ainda prefiram as pequenas embarcações. Como é o caso do conselheiro tutelar Fábio Cristiano Helvecio, morador da Atalaia Nova, ele prefere o balanço do rio quando precisa resolver algo em Aracaju.

“Eu ando de tototó desde pequeno, também já andei nas antigas lanchas, mas eu sempre preferi o tototó. Mesmo tendo os ônibus que eu posso pegar para chegar em casa, opto pela travessia pelo rio porque, além de ser uma viagem gostosa, ela é segura, não tem acidentes e nem o perigo dos assaltos”, comenta.

ENTRE FAMÍLIAS

Por se tratar de um meio de transporte antigo, é comum ouvir histórias de pilotos e proeiros que começaram na profissão através de seus pais, tios ou algum outro familiar. Entre eles está Valdemir Luiz Lima, o Val, que há mais de 20 anos trabalha no píer do rio Sergipe.

“Meu avô era marítimo, ele era da Marinha de Guerra, e ele tinha uma embarcação aqui a vela. MInha mãe, hoje com 80 anos, fala que naquela época a travessia era feita em barcos a vela e só depois passou para embarcações movidas a motor. Mas eu comecei a trabalhar aqui em 1998, através de um primo da minha esposa. Eu tinha tirado a carteira náutica e estava desempregado na época. Mas eu sempre utilizei os tototós como meio de transporte, desde criança. E com o avanço das tecnologias, os motores ficaram melhores e a travessia mais rápida”, lembra.

Val é esposo da tia de Flávio dos Santos, proeiro de seu barco. Flávio, que começou a trabalhar fazendo travessias aos 20 anos, comenta que começou trabalhando na embarcação de um dos seus tios. “O meu tio começou ajudando o pessoal e um tempo depois conseguiu comprar a sua própria embarcação. Foi aí que eu tirei a carteira náutica e comecei a trabalhar com ele. Hoje, eu trabalho com o Val, que é esposo de uma tia minha, e a gente se reveza na embarcação desse meu tio. É assim que eu consigo sustentar a minha família”, comenta.

Desde 2011, as pequenas embarcações de madeira movidas a motor e que atravessam diariamente o rio Sergipe são consideradas Patrimônio Cultural e Imemorial do Estado. Uma iniciativa que pretendia assegurar a existência, manutenção e a valorização destas embarcações e dos profissionais que ali trabalham. Mas, na verdade, muito ainda precisa ser feito. Apesar dos esforços de pilotos e proeiros, a falta de manutenção e, até mesmo, sinalização nos píeres de Aracaju e da Barra dos Coqueiros afastam os turistas e a população local.

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