Thayslane Melo entrou para o quadro internacional de árbitros de futebol em janeiro e é a única sergipana a conseguir o feito

O sonho de todo árbitro de futebol é entrar para o quadro da Fifa (Federação Internacional de Futebol) e assim poder trabalhar em competições internacionais. Sergipe já havia tido dois árbitros nesse quadro: o árbitro central Sidrack Marinho, entre 1994 e 1998, e o árbitro auxiliar Clériston Barreto, entre 2014 e 2016. Mas, em janeiro deste ano ganhou uma nova representante, a árbitra central Thayslane Melo.

Nascida em Aracaju, mas criada na cidade de Propriá, no baixo São Francisco, Thayslane começou na arbitragem em 2008 e hoje é a única mulher sergipana a ingressar no quadro da Fifa. O CINFORM conversou com ela sobre o início de sua carreira, o lugar da mulher no futebol e sobre a responsabilidade de estar no ápice de sua carreira.

Thayslane atua em competições masculinas…

CINFORM – Como começou a sua paixão pelo futebol e sobretudo pela arbitragem?

Thayslane Melo – O meu primeiro contato com o futebol surgiu com a ida aos campos com o meu pai, que foi goleiro profissional. Durante a minha graduação no curso de Educação Física surgiu a oportunidade de eu fazer um curso de arbitragem na Federação Sergipana de Futebol, onde eu percebi que poderia ter um outro olhar para o futebol. Começou com o curso, depois o contato com outros árbitros e tudo isso só intensificou a paixão pelo futebol e acendendo a paixão pela arbitragem. 

CINFORM – Você apita jogos profissionalmente desde 2008 e é a primeira mulher sergipana a ingressar no quadro da FIFA. Como você se sente com relação a isso? A responsabilidade aumenta?

TM – Eu trabalho nas competições femininas desde 2008, como Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro, até ingressar na segunda divisão do Campeonato Sergipano masculino, em 2016. De lá para cá, sempre atuando em competições femininas e masculinas. Esse ano eu tive a oportunidade de arbitrar no Campeonato Paraibano de Futebol masculino. E ter entrado para o quadro da Fifa aumentaram as exigências e a responsabilidade. É muito difícil entrar no quadro internacional e se manter nele é ainda mais.

Eu sou a terceira árbitra de Sergipe a ingressar no quadro da Fifa, mas a primeira sergipana a ingressar no quadro internacional. Uma vez que o Sidrack Marinho e o Clériston Barreto são naturais da Bahia. É uma sensação muito boa pertencer ao quadro da Fifa, afinal o grande sonho de todos os árbitros é chegar a esse ápice. Comigo não é diferente! É uma satisfação muito grande poder partilhar essa notícia com o povo sergipano, em especial ao povo de Propriá, que é a cidade onde eu cresci. É uma conquista não só para mim, mas para todos os árbitros da FSF.

… E femininas

CINFORM – Você acredita que cada vez mais portas se abrirão para as mulheres no futebol ou ainda há muito o que se fazer?

TM – Tem melhorado bastante a presença da mulher no futebol. Nós costumamos dizer que somos privilegiadas por ter contato com o futebol atual, depois de tantas pioneiras na arbitragem nacional que enfrentaram barreiras e uma resistência bem maiores do que hoje. Ver mulheres árbitras no futebol ainda não é tão comum, mas nossas atuações têm melhorado em termos de credibilidade e reconhecimento de um trabalho que está sendo feito com muita dedicação no campo de jogo. A gente sabe que sempre vão existir algumas barreiras, mas aos poucos tentamos rompê-las. E eu espero que a presença da mulher no campo se torne natural.

CINFORM – Acredito que ser árbitro de futebol exige não só muito preparo físico e mental, mas muito estudo e atualização. Você pode falar um pouco sobre como é a sua preparação para cada partida?

TM – A preparação é muito grande. Desde que sai a escala nós começamos a pensar o jogo. O chamado pré-jogo não acontece apenas para as equipes, ele acontece para a equipe de arbitragem também. Nós estudamos as equipes que participarão da partida, toda a logística para chegarmos ao campo de jogo, o plano de trabalho com a equipe de arbitragem. A arbitragem e o futebol moderno se baseiam em quatro pilares: o físico, o mental, o social e o técnico. Este último exige atualizações e estudo diário das situações de jogo.

Thayslane Melo é a única árbitra sergipana no quadro da Fifa

CINFORM – Você é árbitra em jogos de futebol feminino e masculino. Você percebe alguma diferença de postura dos atletas ao se deparar com uma árbitra mulher?

TM – Eu atuo tanto em competições femininas quanto masculinas, e nós sabemos que o respeito por nós mulheres é maior. Os atletas têm uma tendência a nos cumprimentar e a compreender um olhar ou uma decisão. Eu acho que todos os envolvidos no futebol têm visto a presença da mulher de forma respeitosa e isso é importante para dar mais credibilidade ao nosso trabalho.

CINFORM – Recentemente, a árbitra auxiliar alagoana Raquel Barbosa foi cercada por jogadores do Murici que reclamavam de um lance durante uma partida pelo Campeonato Alagoano. Você acredita que ainda há muito machismo no futebol brasileiro?

TM – Bastante. Eu posso dizer que melhorou muito, mas ainda há muita resistência à presença da mulher, principalmente nas tomadas de decisões. Quando a nossa decisão tem um grau bem maior, em termos de proporção, ao acerto ou ao equívoco. Então, eles ficam nos questionando e nos pressionando psicologicamente, mas nós sabemos das tomadas de decisão no campo de jogo. E com a Raquel aconteceu justamente isso. Ela é uma árbitra auxiliar muito competente e fez o melhor. Ela encarou a situação de forma serena. Ela tinha certeza da decisão dela e é isso que temos que fazer: uma vez tomada a decisão, nós temos que sustentá-la.

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