“Os prejuízos que a Petrobras causa no país e, principalmente, no Nordeste são enormes. Porque em São Paulo, no Rio de Janeiro, existem empresas de meio ambiente, há mais fiscalização. Mas aqui no Nordeste, em Sergipe, não se fiscaliza”

A problemática da hibernação-fechamento-privatização da Fafen – Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Estado de Sergipe – ainda vai render muitos capítulos nesta extensa novela. Um destes capítulos é a argumentação de engenheiros renomados, como o engenheiro químico especializado em Engenharia de Sistemas de Fluidos pela University of Houston System Genivaldo Monteiro, de que a empresa que controla a fábrica – a Petrobras – não cumpre nem com as normativas ambientais em nenhum local do país, e, em Sergipe, pratica estragos escabrosos, tão prejudiciais quanto mineradoras responsáveis por catástrofes como as de Brumadinho/Mariana.

Entre uma fala e outra, um posicionamento e outro, o engenheiro sinaliza ainda que hoje o melhor para a Fafen seria um ajuste de contas com a Sergás, empresa do Estado, já que, segundo ele, a Fafen deve algo em torno de R$ 500 milhões à Sergás.

“Eu tinha uma certa facilidade [de entrar na Petrobras], porque principalmente os chefes da Petrobras daqui foram meus colegas na faculdade de química. Mas tinham documentos que a Petrobras fazia assim [Genivaldo abre uma gaveta e coloca papéis dentro] engavetava. A Petrobras é uma caixa-preta. Antes tinha uma ordem verbal para eu não entrar na Petrobras. Porque eu fui contratado por um escritório de advocacia para fazer uma justificativa e um parecer técnico sobre um prejuízo que a Petrobras estava causando sobre o Vale do Cotinguiba no município de Carmópolis. Eu fiz o parecer. Entramos na Justiça. Até pouco tempo atrás a Petrobras estava recorrendo na Justiça. E nós ganhamos esta causa. Os prejuízos que a Petrobras causa no país e principalmente no Nordeste são enormes. Porque em São Paulo, no Rio de Janeiro, existem empresas de meio ambiente, há mais fiscalização. Mas aqui no Nordeste, em Sergipe, não se fiscaliza”.

Genivaldo dá exemplos antigos e atuais de como são os malefícios para o meio ambiente. “Quando a gente sai do mar vê as plataformas jogando no mar os fluídos de perfuração. Os fluídos contêm amido, uma substância que serve para dar viscosidade, para não deixar esses fluidos dentro das rochas. Cada um destes produtos [químicos] é mais violento que o outro. Usava-se um produto chamado pentaclorofenato de sódio, o conhecido pó da china nestes fluidos. Este era o produto usado para descobrir as locas dos vietcongs na época no Vietnã, porque ele desfolha as plantas. Quando se joga este produto nos tanques ou no mar, se faz isso geralmente sem tratamento”.

Entre uma fala e outra, um posicionamento e outro, o engenheiro sinaliza ainda que hoje o melhor para a Fafen seria um ajuste de contas entre a Sergás, empresa do Estado, já que, segundo ele, a Fafen deve algo em torno de R$ 500 milhões à Sergás. “A Sergás é estadual e tem dinheiro dentro da Nitrofértil, já batido o martelo. A própria Sergás pode fazer um balanço de dívidas”. Questionado acerca da privatização, porém, Genivaldo diz que petróleo não dá prejuízo nunca. “Não há crise na Petrobras”.

E finaliza rememorando os tempos em que Sergipe produzia. “Cada governo que entra é um pior do que o outro. Sergipe já foi o segundo maior produtor de sal. O terceiro era o Rio de Janeiro. Sergipe hoje não tem um quilo de sal mais. Existiam salinas em Socorro, Barra dos Coqueiros, São Cristóvão. Nós exportávamos sal. Quantos milhares de empregos deixaram de existir? Nós éramos o primeiro produtor de coco. Isto é o governo; ou melhor, o desgoverno. Sergipe tinha uma cadeia produtora de algodão. Hoje nós não produzimos mais. Tínhamos o fumo, que também não existe mais”.

CARTA DO FÓRUM EM DEFESA DA FAFEN

O Brasil dispõe atualmente de apenas duas indústrias de fertilizantes estatais no país (as demais foram vendidas na década de 1990), responsáveis pelo abastecimento interno de 30% da demanda, enquanto que 70% dos fertilizantes são importados, demonstrando o potencial de desenvolvimento econômico na agroindústria brasileira e a sua dependência do mercado internacional para a produção.

Na última segunda-feira, dia 11, o Fórum em defesa da Fafen, Fábrica de Fertilizantes e Nitrogenados do Estado de Sergipe, por meio de uma Carta, solicitou aos deputados federais e senadores, que intercedessem junto ao vice-presidente Hamilton Mourão a fim de conseguir uma audiência entre os membros do Fórum de Defesa da Fafen e o presidente interino. A Carta é assinada pelas seguintes entidades: CSP-Conlutas, FNP, Sindipetro AL/SE, Adufs, Sindicagese, Sindifisco, Sindiscose, FUP, CUT, minoria Sindimarketing, SOS Emprego, MML, PSTU, PSOL, PT, OAB-SE e Advocacia Operária.

O objetivo daqueles que defendem a continuidade da Fafen, segundo o texto documental, é “externar os erros que serão cometidos pelo Estado brasileiro caso se concretize a privatização das fábricas de fertilizantes nos estados de Sergipe e Bahia”. Os trabalhadores ainda ressaltaram, em documento, que se baseiam no fato de que o vice-presidente da república expressou publicamente mais de uma vez a sua posição em defesa da manutenção das estatais no Brasil.

E, conforme avalia o Fórum, a venda dessas indústrias, do ponto de vista econômico, deixará o país mais vulnerável à disposição dos mercados internacionais através das importações de fertilizantes para a produção na agricultura. A Carta do Fórum argumenta ser “um contra censo, visto que qualquer governo minimamente preocupado com a economia e a soberania nacional teria como primeira medida os investimentos nessas fábricas, garantido assim o abastecimento interno, que tem uma demanda imensa e ao mesmo tempo se manteria independente do mercado internacional”.

Os sindicalistas argumentam ainda que, caso as fábricas de fertilizantes sejam privatizadas, somente para se ter apenas um exemplo do prejuízo, com a promessa de futura hibernação da Fafen em Sergipe, a Fábrica de fertilizantes que atua como misturadora e dependente da matéria prima produzida pela Fafen, a Heringer, acaba de demitir todo o seu quadro de funcionários e fechou as suas portas. E, da mesma maneira, a Fafen está efetuando centenas de transferências dos efetivos e demissões dos terceirizados.

“Isso é um desastre econômico e social praticado contra o Estado de Sergipe e será assim também na Bahia num momento de desemprego galopante no país. O ‘Brasil acima de tudo’ passa pela defesa do patrimônio do seu parque industrial. Se isso não se verifica na prática, não passa de palavras ao vento”.

Foto – Diário do Poder

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