A Campanha Março Azul tem o objetivo de conscientizar a população sobre fatores de risco, diagnóstico precoce e tratamento do câncer de intestino, também conhecido como câncer colorretal. Sobre o assunto, nós conversamos com o Dr. Felipe Torres, Coloproctologista e Cirurgião Digestivo, representante de Sergipe da Sociedade Brasileira de Coloproctologia na Campanha Março Azul 2024. Confira!
Cinform Saúde: A Campanha Março Azul tem sido crescente a cada ano, o que devemos destacar sobre a ação deste ano?
Dr. Felipe: A campanha Março Azul tem tomado proporções crescentes. Com a união de três grandes Sociedades Médicas: Coloproctologia, Endoscopia e Gastroenterologia, a intenção da campanha é tornar pública a consciência sobre o 2º tipo de câncer mais comum no Brasil, o câncer de intestino, e ter o mesmo alcance e que têm as campanhas do Outubro Rosa (para câncer de mama) e do Novembro Azul (para o câncer de próstata). Desde 2022, a campanha virou a chave em termos de alcance, quando contou com apoio de diversos artistas nacionais e também do Senado, quando começou com um projeto social de rastrear toda a população de pequenos municípios de maneira gratuita através de parceria com as sociedades médicas, empresas privadas, e prefeituras locais. Este ano, o município que receberá especialistas voluntários do Brasil todo será o de Óbidos no Pará .
Dr. Felipe Torres, Coloproctologista e Cirurgião Digestivo
Cinform Saúde: O que é o câncer colorretal ? É uma neoplasia que acomete homens e mulheres?
Dr. Felipe – O câncer colorretal é o câncer que acomete o intestino grosso e o reto, a porção final do tubo digestivo. Ele acomete igualmente homens e mulheres, acima dos 55 anos, e é o 2° tipo mais comum de câncer, perdendo apenas para o de mama nas mulheres e o de próstata nos homens.
Cinform Saúde: Quais os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença?
Dr. Felipe – Os fatores de risco mais relevantes são aqueles relacionais a estilo de vida. Fatores como dieta rica em gordura animal e carne vermelha, frituras, doces, fast food, enlatados e embutidos, aumentam o risco. Além desses, o sedentarismo, a obesidade, o consumo excessivo de álcool e o fumo, também estão relacionados. Doenças intestinais inflamatórias crônicas como Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn , história familiar de câncer de intestino, ou história pessoal de outro tipo de câncer também são fatores de risco.
Cinform Saúde: Quais os sintomas e sinais de alerta ?
Dr. Felipe – Os principais sintomas são: alteração do ritmo intestinal, sangramento nas fezes, dor abdominal, perda de peso e anemia. Embora sempre gostamos de destacar que os sintomas só estão presentes quando o tumor já está em estágio mais avançado, em fases iniciais ele pode ser completamente assintomático.
Cinform Saúde: Há prevenção para a doença ?
Dr. Felipe – Sim! Em tese poderíamos prevenir quase todos os casos. Para isso, bastaria fazer exames de rastreamento em idade recomendada, e com isso conseguiríamos detectar lesões pré-malignas , denominadas pólipos, que podem ser tratadas antes de evoluir para câncer.
Cinform Saúde: Quais os exames essenciais para o diagnóstico precoce?
Dr. Felipe – O exame mais importante na prevenção e diagnóstico precoce é a colonoscopia, um exame onde uma microcâmera pode avaliar toda a mucosa do intestino grosso. Mas na ausência deste, a pesquisa de sangue oculto nas fezes, um simples exame laboratorial de baixo custo, pode ajudar na detecção. E, caso venha positivo, o paciente deverá então ser encaminhado para a colonoscopia. A colonoscopia é também capaz de realizar biópsias de áreas suspeitas e, em alguns casos, até tratar tumores em fases iniciais.
Cinform Saúde: Pode nos falar um pouco mais sobre o exame de colonoscopia ? Ainda há muitos tabus?
Dr. Felipe – O exame de colonoscopia ainda é tabu, mas, felizmente, em menor escala. Para desmistificar um pouco o temor do exame, a colonoscopia é um exame bastante seguro hoje em dia, e indolor, durante o qual, os pacientes são sedados e acompanhados por um anestesista, e , na maioria das vezes, os pacientes quando acordam nem lembram que realizaram o exame. O pós- exame tem um despertar rápido, e a maioria dos pacientes sente apenas desconforto como “gases” abdominais.
Cinform Saúde: Temos dados atuais referentes ao número de casos, expectativa de tratamento?
Dr. Felipe – Os dados do Instituto Nacional do Câncer – INCA estimam mais de 45mil novos casos ,no Brasil,por ano, e esse número é crescente. Outro dado que tem nos preocupado é o aumento do diagnóstico na população cada vez mais jovem. (Abaixo dos 50 anos). Grande parte desses pacientes no Brasil tem atraso no diagnóstico, e isso limita as chances de cura. Para se ter uma ideia, se detectado em fases precoces, o câncer de intestino tem mais de 90% de chance de cura, contra cerca de 20-30% quando em estágios mais avançados.
Cinform Saúde: Estudos apontam que o pós-tratamento do câncer de intestino também é essencial. O que é importante ressaltar?
Dr. Felipe – O fato mais importante a ser salientado é que não falamos em “cura” antes de cinco anos de seguimento. Isso porque o câncer de intestino tem risco de recidiva (voltar no intestino ou mesmo com metástase), e esse risco é maior nos primeiros dois anos. Então um seguimento especializado com equipe de oncologia, coloproctologia e endoscopia para realização de exames de seguimento, a cada 3-6 meses, é fundamental para manter o controle da doença.
Cinform Saúde: Qual mensagem gostaria de deixar enquanto médico ?
Dr. Felipe – O Câncer de Intestino pode ser completamente prevenível se realizarmos o exame de colonoscopia (ou de sangue oculto nas fezes ) a partir dos 45 anos. Não aguardem sintomas para realizar o rastreamento. E, se já tiverem sintomas, procurem um especialista na área para poder investigar. O tempo é a chave da cura.